Revoltante É revoltante a divulgação irresponsável que a mídia está fazendo das "maravilhas" da redução de estômago. Só hoje eu vi dois programas falando do assunto: Gugu e Márcia Goldsmith (acho que é assim o nome da apresentadora(?)).
No Gugu, a entrevistada vestia um top que era um sutiã e uma saia curta. Claro que agora, além de magra, ela era loura. A chamada que fica no rodapé da imagem destacava que ela só tinha dado o "primeiro beijo" depois da cirurgia.
Na Márcia, a reportagem acompanha uma menina de 200kg que está fazendo os exames para a operação, que será apresentada na próxima semana. Espero que ela tenha mais sorte que minha prima (acabou que não comentei que ela morreu ao fazer uma cirurgia de redução de estômago. O grampo perfurou o intestino e ela teve infecção generalizada. O primo de uma colega da pós morreu do mesmo jeito. Como o estômago é reduzido, tem que se fazer outra ligação dele com o intestino e aí é que está o problema: se o intestino for perfurado ele contamina todos os órgãos e a pessoa morre.) e sobreviva, pra não "estragar a pauta".
Essa campanha em prol da redução de estômago é um perigo. As pessoas creem que suas vidas vão mudar totalmente e para melhor depois de emagrecerem, o que não é verdade! Eu falo com propriedade porque emagreci 22kg: ninguém fica melhor porque está mais leve. A gente fica, sim, com aparência melhor, mais ágil, mais saudável, mas a melhora na auto estima, na auto confiança, não vem no pacote da magreza. Se fosse assim, não existiria magro inseguro.
Quem bendiz esta cirurgia não se dá conta de que ela é uma mutilação. E pior: você só perde a capacidade física de comer muito, o desejo por comer muito continua lá, pulsando na sua cabeça, só que agora você NÃO PODE comer, vc literalmente não tem estômago pra isso. Deve ser muito triste viver assim.
Sei que há casos em que é a cirurgia ou a perda da vida, mas hoje vemos a banalização do procedimento e sua apresentação como a única saída para quem tem que emagrecer muitos quilos. Mentira! Ângela Ro Ro e os Vigilantes do Peso não me deixam mentir. Tem gente que emagrece muito mais que os 50kg que alguns pacientes alegam que têm que perder e por isso se submetem a cirurgia. A Ângela emagreceu mais de 50 e ainda parou de fumar e beber e no VP tem um caso de uma mulher que emagreceu 98kg. Claro que ambas levaram anos (Ângela está nesta desde 2000), mas é assim mesmo. Por isso que as cirurgias são tidas como revolucionárias e milagrosas, porque têm resultado muito, mas muito rápido. E neste mundo instantâneo, "preparo em 3 minutos", "já vem pronto, é só aquecer" que vivemos, nada melhor que atender uma exigência da sociedade (ser magra) rapidamente.
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Por que não fazem matérias sobre cirurgias que não deram certo? Por que não apresentam todos os riscos? Por que não falam de pessoas que emagreceram sozinhas? Certamente é porque não haveria nenhum interesse comercial e TV é comércio, né?
Santa Bárbara, dos tempos violentos,
Vosso rosto me aparece num clarão
Quando um raio rasga a imensa escuridão.
Muitos ventos, muitos ventos
Passam por meu coração
Na carícia quase bruta
Do poder de vossa mão.
Senhora me iluminai,
Clareai meus pensamentos.
Santa Bárbara dos tempos violentos!
Vejo em vossos elementos:
A chuva não vai parar
Até ter deixado limpos meu corpo e minha alma.
Dona dos meus temporais,
Senhora de olhos cinzentos.
Santa Bárbara dos tempos violentos!
(Santa Bárbara - Fátima Guedes)
Conheci esta música na peça Soppa de Letra que assisti ontem. Muito pertinente.
Parada de Sucesso da Lara Apesar de vez ou outra cantarolar Felipe Dilon (?), Larinha gosta mesmo é de Maria Rita. Agora, deu pra cantar Pagu ("Porque nem toda feiticeira é corcunda/Nem toda brasileira é bunda"...) e outro dia, quando esqueceu a letra, perguntou a mãe:
E assim chegar e partir
São os dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida
(Encontros e despedidas – Milton Nascimento e Fernando Brant)
Larinha, sempre Larinha Larinha é nossa alegria em meio ao caos que tem sido os últimos dias.
Quando minha irmã recebeu a notícia de que minha prima tinha morrido, desabou no choro. Ela estava sozinha com a Lara em casa. A menina, preocupada, perguntou o que tinha acontecido. Quando minha irmã contou que minha prima tinha morrido, Larinha comentou:
– Virou caveira.
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Na quinta, quando fui fazer minha habitual visita de depois do trabalho a Larinha (de segunda a quarta chego em casa às 22h, 22h30, então não vou lá), ela abriu o portão pra mim. Foi caminhando para a cozinha na minha frente e, quando entrei, apontou para mim e comunicou a minha irmã:
– A Ana Paula não morreu.
Eu, minha irmã e minha mãe ficamos alguns segundos atordoadas e sem entender, mas depois caiu a ficha: o nome da minha prima que morreu era Ana Paula e Larinha pensou que a Ana Paula que tivesse morrido tinha sido eu. Quando me viu chegando na casa dela, tratou de avisar a mãe que eu não tinha morrido.
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Ao entender a confusão que a menina tinha feito na sua cabecinha, comecei a explicar-lhe quem era a Ana Paula que tinha morrido, em um discurso bem didático:
–... Ela ficou dodói e foi morar com o Papai do Céu.
– Virou caveira e foi lá pro céu, disse ela jogando as mãos pro alto.
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Larinha acabou nos fazendo chorar. Estávamos ouvindo o Cd da Maria Rita quando ela pediu pra ouvir a música de Senhora do Destino e simplesmente começou a dançar, fazendo movimentos leves com os braços, levantando e rodando eles, jogando-os para a esquerda e a direita no ritmo da música. Parecia que queria nos falar de encontros e despedidas. Linda, essa menina.
Reencontrar a mãe da minha prima me lembrou meu apelido de infância: Pauloquinha. Quando eu era criança, ela e minhas tias me chamavam assim, com a possibilidade da variante “Pauloquinha tchan-tchan-tchan”, ao que eu respondia toda faceira. :)
Minha prima morreu. Ela se foi na terça-feira, dia 6. Criadora de célebres expressões, como “calor causticante”, ora cúmplice, ora mentora intelectual de grandes merdas da minha infância e de minha irmã, Miss Pão Molhado* foi animar outras paragens. Parece um pesadelo. Dá vontade de voltar o tempo e não deixar ela entrar para a cirurgia. A impressão que tenho é que ela continuará morando em Magé e estará só nos devendo uma visita, como sempre.
Eu não fui ao enterro. Acho até que fugi para o trabalho para não saber que tinha vaga nos carros e ir. Me sabotei. Minha mãe falou que tinha tanta gente que um guarda teve que parar o trânsito para passar o cortejo. Ela disse que tinha muito carro, moto e até um ônibus fretado pela loja em que minha prima trabalhava para levar as colegas de trabalho. Aliás, que loja! O dono além de liberar todas as funcionárias que quisessem visitar minha prima no Rio enquanto ela esteve internada (e sempre havia umas três ou quatro no hospital), ainda destacou um carro com motorista para trazer e levar a mãe da minha prima do Rio para Magé. Coisa rara de se ver...
Essa minha prima era prima por afinidade, um laço às vezes muito mais forte que o de sangue. Na verdade, ela era vizinha da minha madrinha. Minha madrinha achava aquela mulatinha, gordinha, de cabelo enrolado, tão linda que brincava com ela quando ela passava pelo seu portão. Acabaram se apegando tanto que minha madrinha praticamente a criou. Ela até chamava minha madrinha de mãe e sua mãe, pelo nome. A amizade acabou de se estendendo a toda a família e minha prima ia todos os domingo lá em casa junto com minha madrinha e estava em todas as festas e viagens de família. Ela até se parecia com minha madrinha, que não teve filhos e tinha nela uma filha.
Há uns 10 anos, minha prima se mudou para Magé e acabamos perdendo um pouco o contato porque ela era compradora de uma grande loja de departamento da cidade e viajava muito a trabalho, sem ter tempo de vir ao Rio. A gente só tinha notícias dela através da minha madrinha, que manteve contato com a mãe dessa minha prima.
No final do ano passado, minha prima achou o email da minha irmã por um acaso em uma busca que estava fazendo na internet e passou a se corresponder com ela. Com essa reaproximação, acabamos indo na casa dela em março, quando ela completou 29 anos. Olha como são as coisas: eu, minha irmã e ela ficamos sem contato por anos e voltamos a nos encontrar naquela que seria a última oportunidade nos vermos. Nós, que nunca tínhamos ido à Magé, que sempre adiamos a visita, acabamos indo para nos despedir. Melhor assim. Ainda tenho na cabeça a imagem dela rindo, seu tom de voz agudo e alto, seu jeito estabanado. Vai deixar saudades.
* Miss Pão Molhado era como meu padrinho nos chamava. Eu, minha irmã e ela éramos Miss Pão Molhado porque éramos muito gordas. Você já viu um pão molhado? Fica inchado, com aparência de pesado, gordo. Éramos nós. :)
Já que o assunto é a derrota do Flamengo... Assim que terminou o jogo, tocou o telefone lá em casa. Atendi:
- Alô?
- Alô? É Ana Paula.
- Sim. É J.? – reconheci a voz de um amigo do meu pai.
Do outro lado, a resposta veio como uma gargalhada. Era o próprio. Passei o telefone pro meu pai. Ficaram os dois velhos vascaínos rindo horrores no telefone. Dez em quando meu pai parava de rir e cantava:
- Vi-ce-campeão... Poeeeeeeeeeeeeeira, poeeeeeeeeeeeeeeeira, o Flamengo comeu poeira.
No pé em que anda o futebol carioca, só mesmo uma derrota acachapante do Flamengo pra dar alegria às outras torcidas.
Pedido Estou aceitando preces, rezas, orações, mentalizações positivas, bons pensamentos, heike ou qualquer coisa que o valha para uma prima que está no CTI desde terça-feira por causa de complicações em uma cirurgia.
Como acredito que fé é pra quem pode e não pra quem quer, peço aos meus leitores de fé uma ajudinha neste momento de aflição. Neste ponto sou como a “caipira, pora” da música: não sei rezar e só posso mostrar o meu olhar, meu olhar... Se por ele, Deus entender minha angústia e aflição e aliviar a minha prima de todo esse sofrimento, eu agradeço penhoradamente.