Família Monstro Hoje teve festa em família: um ano de Arthur, meu sobrinho neto. Mais uma ocasião para a Família Monstro fazer das suas.
Uma prima chama minha irmã, eu e a cunhada para uma foto. Dá a câmera ao meu sobrinho, pai do aniversariante, anunciando:
– Tira uma foto das quengas da família!
E ele:
– Quengas que não dão pra ninguém, né?
Não precisava humilhar.
*** O sogro do meu sobrinho, portanto o outro avô de Arthur, é cabeleireiro. Pronto. Prato cheio para meu irmão, avô de Arthur e monstro de mais fina estirpe, sacanear o cara. Na hora da gincana, o animador tocou a música do filme Branca de Neve e os Sete Anões e perguntou qual o nome do filme. Meu irmão respondeu:
– Cinco cabeleireiros e uma escova!
Depois o animador perguntou a profissão do Toni Maneiro, personagem de John Travolta em Embalos de Sábado à noite, e meu irmão:
Salve o Rosa! Hoje fui à praia aproveitar o sol outonal que faz esse Rio de Janeiro mais lindo ainda. Quando vi o mar limpo e na temperatura exata, lembrei de Guimarães Rosa que escreveu:
É como eu sempre digo... Foi lindo ver a juventude carioca cantando “Eu só fico em teus braaaços/ porque não tenho força pra tentar iiiiir à lutaaaaa” aos berros e com as mãos no pro alto no show da Alcione ontem no Circo Voador. É a prova de que a dor-de-corno é para todos, sem distinção de sexo, idade, credo ou etnia.
Família Monstro Eu estava no salão do shopping fazendo as patas, quando oito primos que sabiam que eu estava lá passaram na porta e berraram “Ana Paaaaaauuuuulllllaaaaaaaaaaaaa”. O salão inteiro parou, os secadores foram calados, as tesouras ficaram suspensas no ar. Aí, eu que estava no mezzanino de costas pra porta, me virei em slow motion, dei um aceno de miss e quase bebi acetona de tanta vergonha!
Você é mais bonita que uma bola prateada de papel de cigarro Você é mais bonita que uma poça dágua límpida num lugar escondido Você é mais bonita que uma zebra que um filhote de onça que um Boeing 707 em pleno ar Você é mais bonita que um jardim florido em frente ao mar em Ipanema Você é mais bonita que uma refinaria da Petrobras de noite mais bonita que Ursula Andress que o Palácio da Alvorada mais bonita que a alvorada que o mar azul-safirada República Dominicana
Olha,você é tão bonita quanto o Rio de Janeiro em maio e quase tão bonita quanto a Revolução Cubana
Ferreira Gullar
(Roubei de Cesar porque adoro Gullar e achei a cantada linda.)
Tem coisas que não mudam O Detran é uma delas. Desde que me entendo por gente, é uma instituição corrupta e incompetente. Tentaram fingir uma arrumada na casa em meados da década de 90, quando implantaram a vistoria anual, contrataram universitários pra fazê-las, aumentaram o rigor na prova para tirar habilitação. Tudo pra aumentar a arrecadação e manter a corrupção, que como disse um amigo que trabalhou lá na época, foi inflacionada com a chegada dos estudantes do ensino superior, mão-de-obra especializada e gabaritada, que obviamente pode cobrar mais.
*** O lugar já é a visão do inferno. Piso irregular, com paralelepípedos mal conservados, buracos em demasia. Barulho de obra, cheiro de combustível queimado, escritórios montados em contêineres. Isso é o Detran de Vila Isabel.
Marquei de transferir o carro que comprei pro meu nome na segunda. Depois de esperar desde antes das 9h até 11h30, fui informada de que teria que retornar hoje porque o recibo de compra e venda teve a firma reconhecida em São Paulo. Aí, eu tenho que pegar um tal de sinal público, mais ou menos como reconhecer a firma do escrevente aqui no Rio de Janeiro, pro papel ter validade em outro estado – da mesma federação, não esqueça. Tive que ir a um cartório, pagar mais R$ 4,50 por uma etiqueta e voltar lá hoje. Com essa brincadeira, eu perdi minha manhã de trabalho ontem e hoje me atrasei em mais de uma hora.
Claro que tinha aquele famigerado cartaz mal feito colado na parede informando que é crime desacatar funcionário público. E desacatar cidadão, contribuinte? Não é crime, né? É prática comum e vigente em todas as instituições públicas.
Claro também que tinha muito despachante. Pra eles não existe fila. O cara chega com a documentação e entrega na mão do funcionário que a coloca em cima da pilha. Simples assim. Em princípio, o serviço deveria ser descomplicado e desburocratizado justamente para facilitar a vida do usuário, mas se for assim, como fica o leitinho das crianças do despachante? Você que tem dois neurônios e toda a boa vontade do mundo, marca sua vistoria, paga seus DUDAs e perde hooooooooooras na fila porque existe uma figura institucionalizada que agiliza (leia-se: fura fila) os processos com a conivência do órgão.
É nessas horas que lamento não ter ainda meu lança-chamas portátil pra flambar aquela gente.
Vão-se os anéis... ... fica o TOC. Meu caso de TOC, que sempre tratei como brincadeira, fica pior a cada dia. Hoje eu fui trabalhar sem anel. Sem meu querido, lindo, grande, amado e estimado anel de prata com marcassita que levo sempre na mão esquerda. Parecia que eu estava nua.
Quando tamborilei os dedos no volante ao som do primeiro acorde do primeiro samba do dia e não ouvi o “retorno”, quase dei meia volta pra buscar meu acessório de última necessidade. Mas como eu ainda tinha que ir pagar penitência no Detran, contei até dez, fiz respiração cachorrinho e segui caminho.
Na hora do almoço, pensava em me jogar numa loja pra comprar um anel. Fui salva pela companhia de uma calega que me distraiu e me fez poupar várias mariolas.
Mas à noite, quando estava em um evento a trabalho, o TOC voltou com tudo. Sentia minha mão leve, ficava mexendo nas unhas, nos dedos. Estava muito desconfortável. Tá, podia ser um pouco de timidez e constrangimento por estar em um ambiente lotaaado onde conhecia apenas duas pessoas e era apresentada a praticamente todos os passantes, mas eu senti falta do anel.
Cuidado, galera: qualquer hora eu só vou querer usem azul perto de mim.
TOC, TOC, TOC Outra ocasião que me fez pensar que meu TOC fictício poderia ser verdade foi quando descobri que o carro que comprei não tem limpador de vidro traseiro. Claro que eu não reparei isso na hora da compra. Meu foco era direção hidráulica, então podia ser o carro dos Flinstones com DH que tudo bem. Só em um dia de chuva, óbvio, que eu “descobri” que ele não tinha limpador atrás.Ô tormento. Eu tinha vontade de sair do carro e ir lá limpar o vidro quando parava no sinal. Ainda bem que não fiz isso ou iam me internar, mas confesso que fiquei muito agoniada vendo aquele vidro todo molhado e a imagem do carro atrás completamente embaçada. Como alguém consegue dirigir assim? Bom, conseguindo, né? Agora até eu consigo. A duras penas, me contorcendo toda, mas consigo.
O melhor da dor-de-corno Mais uma de Chico Buarque pra fechar a trilogia do compositor sobre a temática da dor-de-corno. "Eu te amo", uma parceria de Chico e Tom, é elegante e classuda. Nada de separar os talheres, as roupas de cama, apenas a perplexidade diante do fim do amor. “Como, se nos amamos feito dois pagãos?”
“Eu mereço!” - o mal do século XXI (e de todos os outros) Uma conhecida ia começar em um novo emprego na segunda. Como a empresa ficava na Barra, longe da casa dela, ela resolveu comprar um carro. No domingo, estava correndo lojas atrás de um Fox 2005 para comprar financiado, dando uma entrada de R$ 3.000,00.
Se daqui a alguns meses ela tiver que entregar o carro, vai dizer que está em depressão, que Deus é mau pra ela, que não dá sorte na vida, que é uma infeliz que vai ter que amargar horas nos ônibus sacudindo até a Barra da Tijuca. Mas eu acho que isso não tem nada a ver com Deus ou má sorte. É só imprudência e falta de maturidade para lidar com dinheiro.
Esse o mal do povo. Ninguém quer começar de baixo. Ninguém quer dar o passo do tamanho da perna. Todo mundo quer o bom e o melhor porque merece. Ora, merecer muita gente merece, mas daí a conseguir arcar com os custos do seu “merecimento” é outra história. Eu, por exemplo, mereço muita coisa, só não mereço viver atolada em dívidas. Por que comprar um Fox 2005 quando se tem só R$ 3.000,00 para dar de entrada? Aliás, por que comprar um carro, se você nem passou dos três meses de experiência no novo emprego? Bom, mas essas são perguntas que não me cabem porque eu tenho um carro 2000 que comprei à vista e um emprego relativamente fixo.
Aliás e a propósito Eu tenho que parar com essa mania de levantar questões para assuntos que não são meus. Às vezes, eu solto umas que as pessoas não esperam ou porque não tinham mesmo pensado no assunto ou porque pensaram, resolveram agir de outra forma e nunca esperavam que alguém trouxesse à baila uma ponderação tão pertinente e óbvia. Exemplo: calega enlouquecida para ter um filho desabafa na mesa do bar: “Contei pro meu marido que estava no período fértil e ele não me comeu”. E eu: “Você já parou pra pensar que ele pode não querer um filho?” A wannabe mamãe ficou bege. Aí eu me pergunto: o marido é meu? O casamento é meu? Sou eque quero ter um filho? Nããããão! Então, por que ser tão lúcida e sensata? Assim, eu acabo sendo a palpiteira chata, inconveniente e estraga prazer.
Para sempre Por que Deus permite que as mães vão-se embora? Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento.
Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio. Mãe, na sua graça, é eternidade. Por que Deus se lembra - mistério profundo - de tirá-la um dia? Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho.
Ô que sorte! Logo hoje que eu tinha que tirar foto para um documento, amanheci com uma espinha na ponta do nariz. Linda de viver.
Como Deus é pai, não é padrastro, o cabelo amanheceu como se tivesse saído de um salão. Mais esperta que a maioria dos ursos, fui tirar a fotita de cabelo sujo, porém, bonito.
Consegui tirar o pus da espinha, mas o vermelhão, impossível. Pareço a rena do nariz vermelho na foto.
Ainda bem que ninguém fica bem mesmo em foto de documento.
Mais um mané Abril foi uma festa, mas maio também promete muito manés pra animar nossos papos de bar.
Depois do padre que voa com bola de festa e do "fenômeno" que pega traveco na rua, o garotão levou seu 4x4 pra passear na beira da praia e ficou atolado. O carro – alienado, ou seja, o bonitão não terminou de pagar o financiamento – ainda foi banhado pelas ondas da ressaca. A água salgada deve ter estragado o motor todo. Será que o seguro dele cobre burrice?