Tem, mais acabou Pôste, agora, só em 2007, galera. Tô indo viajar. Declinei o convite de passar a virada (ui!) nos salões da mansão de Fernanda Rena e de tomar (ui!) muito prossecuzinho (ui!, de novo) com Fabriça em Niterói (pra quem não tinha planejado nada, até que as oportunidades foram surgindo) pra de novo partir pra Ponta Negra. Melhor não contrariar aquela turma de gente maluca que tem o mesmo sobrenome que o meu.
Para não perder o hábito, uma mensagem de final de ano
Certas Esperanças
Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)
É preciso — é mais do que preciso, é forçoso — dar boas festas, trocar embrulhinhos, querer mais intensamente, oferecer com mais prodigalidade, manter o sorriso e, acima de tudo, esquecer tristezas e saudades.
Façamos um supremo esforço para lembrar e sermos lembrados, porque assim manda a tradição e é difícil esquecer à tradição. Enviemos cartões e telegramas de felicitações àqueles que amamos e também àqueles que — sabemos perfeitamente — não gostam da gente. O Correio, nesta época do ano, finge-se de eficiente e já lá tem prontos impressos para que desejemos coisas boas aos outros, nivelando a todos em nossos augúrios.
Depois de abraçar e ser abraçado, desejar sincera e indiferentemente, embrulhar e desembrulhar presentes, cada um poderá fazer votos a si mesmo, desejar para si o que bem entender. Subindo na escala das idades, este sonhou todo o mês com um trenzinho elétrico, aquele com uma bicicleta (com farol e tudo), o outro certa moça, mais além um quarto sonhador esteve a remoer a idéia de ser ministro e o rico... bem, o rico só pensa em ser mais rico. O rico detesta amistosamente os ministros, já não tem olhos para a graça da moça, pernas para pedalar uma bicicleta e, muito menos, tempo para brincar com um trenzinho.
Dos planos de cada um, pouquíssimos serão transformados em realidade. Alguns hão de abandoná-los por desleixo e a maioria, mal o ano de 56 começar, não pensará mais nele, por pura desesperança. O melhor, portanto, é não fazer planos. Desejar somente, posto que isso sim, é humano e acalentador.
De minha parte estou disposto a esquecer todas as passadas amarguras, tudo que o destino me arranjou de ruim neste ano que finda. Ficarei somente com as lembranças do que me foi grato e me foi bom.
No mais, desejarei ficar como estou porque, se não é o que há de melhor, também não é tão ruim assim e, tudo somado, ficaram gratas alegrias. Que Deus me proporcione as coisas que sempre me foram gratas e que — Ele sabe — não chegam a fazer de mim um ambicioso.
Que não me falte aquele almoço honesto dos sábados (único almoço comível na semana), com aquele feijão que só a negra Almira sabe fazer; que não me falte o arroz e a cerveja — é muito importante a cerveja, meu Deus! —, como é importante manter em dia o ordenado da Almira.
Se não me for dado comparecer às grandes noites de gala, que fazer? Resta-me o melhor, afinal, que é esticar de vez em quando por aí, transformando em festa uma noite que poderia ser de sono.
E para os pequenos gostos pessoais, que me reste sensibilidade bastante para entretê-las. Ai de mim se começo a não achar mais graça nos pequenos gostos pessoais. Que o perfume do sabonete, no banho matinal, seja sempre violeta; que haja um cigarro forte para depois do café; uma camisa limpa para vestir; um terno que pode não ser novo, mas que também não esteja amarrotado. Uma vez ou outra, acredito que não me fará mal um filme da Lollobrigida, nem um uísque com gelo ou — digamos — uma valsa.
Nada de coisas impossíveis para que a vida possa ser mais bem vivida. Apenas uma praia para janeiro, uma fantasia para fevereiro, um conhaque para junho, um livro para agosto e as mesmas vontades para dezembro.
No mais, continuarei a manter certas esperanças inconfessáveis porém passíveis — e quanto — de acontecerem.
A crônica acima foi publicada na revista "Manchete" nº. 193, de 31/12/55.
O ano que vai Ah, 2006... Foi o ano do retorno de saturno, o ano da mudança, da renovação. E tudo pra melhor. Que bom!
No começo do ano a gente levou um susto porque minha mãe caiu e quebrou o pé e o pulso. Ela não precisou operar, mas deu trabalho, sentiu muita dor, fez muita fisioterapia, mas Poliana que sou, acho até que ela teve sorte porque poderia ter ficado de cama, o que teria multiplicado por 5 as complicações que tivemos; e ela, maluca que é, já tinha até esquecido que tinha passado por isto este ano.
Meu presente de Natal veio em maio e foi entregue pelo Correio. De lá pra cá foi só alegria. Trabalho novo, dinheiro no bolso, novos e muitos amigos (e olha que não sou muito dada a amizades relâmpago; cultivo as que eu tenho, mas não faço amizade facilmente e nem chamo qualquer um de amigo).
Pra fechar a tampa com louvor, apresentei ontem meu primeiro trabalho – a proposta de revisão de um programa da companhia – para o chefão que gostou, fez poucas considerações (todas muito pertinentes, mas nada de substancial, nada que desqualificasse o trabalho) e ainda pediu para que eu propusesse a expansão deste programa para TO-DA A A-MÉ-RI-CA LA-TI-NA. Medo, mas nisso eu penso semana que vem. O sorriso e o “parabéns, bom trabalho” dele e da minha chefe direta no final fecharam bem meu ano.
O ano que vem Não sou muito de fazer planos, mas determinei (parece coisa de gente da Universal... hehe) que 2007 será o ano do prazer. Analisei minha vida e vi que só cumpro obrigações: trabalho, estudo, academia. Não quero estudar (bom, terei que fazer isso até terminar a pós), não quero ter mais obrigação que ir para o trabalho. Quero ter um hobby, fazer alguma coisa por puro deleite, sem me preocupar em “passar”, em “concluir”.
Espírito natalino Rafael, meu primo mais novo, mas que já tem bem seus 23 aninhos, ainda é louco por pipa. Na falta do que fazer na tarde do dia 25, subiu na laje pra soltar pipa. (Mais suburbano que soltar pipa na laje é pegar sol na laje, coisa a que, felizmente, ninguém na minha casa se presta.)
Rafael conseguiu a proeza de voar sua sete pipas. A mãe dele disse que ele estava fazendo sua boa ação de Natal doando pipas aos meninos mais pobres. Só pode ser: ninguém tem tanta perseverança com tamanha falta de destreza.
Indulto de Natal Gente, as pessoas da minha família estão cada vez mais malucas... Parecia um bando de loucos saídos do hospital psiquiátrico para passar as festas com a família. É meu pai que compra um ventilador de quarto de criança para sala. É minha mãe que não lembra que durante este ano quebrou o pulso e fez umas quinhentas sessões de fisioterapia. É minha tia que comprou seu próprio presente de amigo oculto e se arrumou e saiu para a missa achando que já eram quase 18h, quando na verdade os ponteiros não chegavam nem às 17h (a igreja fica a uma quadra de casa). Foi meu padrinho que achou que ninguém o buscaria em casa na manhã do dia 25 e partiu de Cordovil para Abolição sozinho, sendo que ele tem mais de 80 anos, só sai de cada uma vez no mês pra receber e só vai à minha casa uma vez no ano (no Natal) quando uma comitiva de primos vai buscá-lo quase a força. Claro que ele pegou o ônibus errado, desceu no lugar errado, se perdeu, deixou todo mundo preocupado... Meu pai ainda ficou esfregando sua toalha de banho do Vasco nos flamenguistas presentes.
Ao ver isso tudo, meu primo que está com depressão, comenta com seu olhar vago:
– Estou curado.
E lamenta não ter trazido o cartão da sua médica.
Sua mulher fecha a tampa:
– Olha, ano que vem você não traz os seus amigos, não, hein?
Veja se eu não mereço um saco de paciência tamanho G
Sexta-feira, 22 Chego em casa e vejo o vaso no meio do quintal. Meu pai estava trocando a louça do único banheiro da casa praticamente na véspera do Natal. Detalhe: o Natal é comemorado na minha casa. Recebemos quinze pessoas.
Meu pai também tirou o ventilador de teto da sala. Ele comprou outro sem esperar para usar o meu cartão.
Respiração cachorrinho pra aliviar o estresse.
Resumo da ópera: calor insuportável e escuridão na sala, mijar só de pé e cagar, nem pensar.
Sábado, 23 O vaso foi liberado.
A pia, também nova e que foi instalada na quinta, está vazando.
Meu pai tirou o bidê. Ele (o bidê) será substituído por uma duchinha.
A duchinha sumiu. Meu pai e minha mãe acham que esqueceram a pobre no balcão da loja. Tentam falar com a loja. Meu pai vai até lá, mas a loja já está fechada.
A sala continua sem ventilador. Meu primo que é eletricista e faria a instalação está muito gripado.
A gente tinha uma missa de bodas de ouro em Irajá. Logo ali... Vamos no carro da minha irmã. Quatro adultos e uma criança num Ford Fiesta modelo antigo. Na volta, caiu um temporal. O ar condicionado do carro resolveu quebrar. Ao ser ligado, ele cospe um bafo quente dos infernos dentro do carro. A gente abre as janelas correndo temendo derreter dentro do bólido. O trânsito em Madureira estava péssimo. Levamos quase uma hora para chegar em casa.
Mais respiração cachorrinho.
Domingo, 24 Acordei com o liga-desliga do ventilador do meu quarto. Respiração cachorrinho ainda na cama, seguida do mantra “nada me aborrece”. Era meu pai e meu primo (não o eletricista) tentado instalar o ventilador e ligando e desligando todos os disjuntores da casa.
Eles desistem antes de tacar fogo na casa, mas vão à rua comprar gelo e pão de rabanada e nos deixam sem luz e sem saber se podíamos ligar os disjuntores ou se eles tinham conseguido fazer uma merda fenomenal na instalação elétrica do bairro inteiro, o que não seria nenhuma novidade.
Meu primo eletricista finalmente aparece e instala o ventilador. Meu pai comprou um ventilador de quarto de criança para a sala. Respiração profunda, “visualizando” o ar entrando pelo nariz, enchendo os pulmões... Ele tem pás na cor azul e um lustre com carinhas desenhadas. As pás são pequenas e o ventilador refresca tão pouco ou menos que o anterior. Mando um torpedo contando o ocorrido pra Daniella que acompanhava minha saga natalina à distância e ela quase se mija de rir.
A duchinha foi encontrada no mafuá de um quarto de ferramentas que meu pai mantém no quintal. Claro que ele se arvorou a tirar o bidê e a instalar a duchinha, mas aí já era de tarde e ele sempre tira uma soneca de umas três horas depois do almoço...
Perto das 18h, meu pai acorda e resolve dar fim à zorra do banheiro sem instalar a bendita duchinha. É minha irmã quem lava o banheiro. Por mim, todos teriam usado um banheiro imundo.
Desisti dos exercícios de respiração e parti pra cerveja. Estupidamente gelada, acompanhada de batata calabresa, pasta de salaminho, de ovos e de frango com torradas, ela fez mais efeito.
Estava pensando... ... se eu realmente desse para todos os amigos que fingem me comer eu seria a mulher mais feliz do mundo, com a cútis mais linda, os olhos mais brilhantes e a buceta mais esfolada também.
Tiradas de Vagareza Vagareza é a minha mãe. Ela chega pra mim e diz:
- Olha, teu pai está uma coisa. Lixou e pintou todos os pés de ferros dos vasos de plantas, as cadeiras e a mesa da varanda. Eu vou até sair de perto porque eu já estou meio enferrujada, né? É capaz dele me lixar e pintar também.
Histórias de Ursulão Sábado à noite eu estava deitada em berço esplêndido, no telefone contando as novidades para Daniella, quando entra voando no meu quarto uma superbarata, daquelas de fazer sombra, mais feia que o dragão de Comodo. Eu surtei, comecei a gritar descontroladamente. A filha da puta da barata parecia que escutava meus berros e voava mais e lógico! na minha direção. Pedi socorro a minha mãe que veio arrastando seus 73 anos, 80kg, sua artorese, enfisema, diabetes e colesterol alto até meu quarto na rapidez que lhe foi possível. Lá chegando, munida de Rodox, a velha não achava a barata de jeito nenhum. Eu já tinha desligado o telefone, até porque, pelo volume dos meus berros, Daniella me escutaria em Belém sem precisar dele. O pior é sempre que eu chegava no quarto pra tentar ajudá-la a encontrar a barata, eu a encontrava! E ela sempre estava a centímetros de mim, o que me fazia berrar e correr pra bem longe, ao invés de matá-la.
Minha pobre mãe estava completamente transtornada por nunca ver a barata a tempo de matá-la. Pra que a velha não enfartasse, pedi que ela saísse do quarto e liguei pra casa da minha irmã para que ela fosse lá matar a barata. Ursulão estava na casa dela dando injeção no gato, mas nem me passou pela cabeça chamá-lo ainda que ele estivesse cortando a unha do pé na varanda porque ele não viria mesmo.
Bom, montei guarda em frente à porta fechada do quarto para ver se barata ia sair, enquanto esperava minha irmã. Neste meio tempo, minha mãe viu pela janela onde a filha da puta estava entocada. Já completamente lesada pelo Rodox, ela (a barata) nem se movia e minha mãe pôde entrar e matá-la (esmigalhá-la com requintes de crueldade, seria o termo certo).
Quando a barata já descia pelo esgoto mandada para lá pela descarga do vaso, meu pai apontou calmamente no corredor. Venceu o quintal numa lerdeza que teria sido mais rápido se ele viesse se arrastando de bunda. Me cumprimentou na cozinha, fingiu que não viu meu rosto de pavor, e foi encontrar minha mãe no quarto.
- Matou a barata, Yara? - Matei.
Hoje de manhã, minha irmã perguntou:
- E, aí, pai, matou a barata ontem? - Não. Quando cheguei já estavam na autópsia.
*** Domingo de manhã ele me comunica que quer comprar outro ventilador pra sala no meu cartão de crédito.
- Mas, pai, é tão barato. Por que você não paga à vista e negocia um desconto? (Tudo pra me livrar de entrar num shopping na semana anterior ao Natal.) - Porque eles não dão desconto, dizem que é o mesmo preço do cartão, aí, eu vou me aborrecer, mandar ir pra putaquiupariu, enfiar no rabo... “Enfia esse ventilador no cu!”... Entendeu? - Entendi. Melhor pagar no cartão mesmo.
Ah, esses amigos que fingem me comer... Raul é um deles. Demoramos quase duas horas pra chegar na Barra e fomos sacaneados pelo nosso atraso.
- Onde vocês estavam, hein, hein, hein?...
E ele:
- A culpa é da Ana que quis secar o cabelo.
Na volta, estávamos no carro com mais uma colega. Quando passamos por um motel supostamente decorado para o Natal e eu pergunto:
- Aquilo ali na fachada daquele motel são luzes piscando? - Calma. Depois a gente vai lá ver de perto.
É bonito isso? O cara finge que me come. Perdemos os dois: eu, que não sou comida e ele, que queima seu filme com as mulheres presentes. Vou explicar pra ele que na minha cartilha ajoelhou, tem que rezar. Ainda mais que ele me confessou que depois que termina os namoros as mulheres encontram “os homens das suas vidas”. Quequieletá esperando pra me namorar???
A redenção do Raul Na sexta, o fofo me esperou sair do trabalho, me pegou, fomos para um jantar na Barra e ele me deixou em casa, depois de deixar uma colega no Leblon e outra em SÃO GONÇALO!!! Nunca mais digo que ele é 100% rancor.
Quem disse que o melhor pra curar a ressaca é manter-se bêbado? Sexta eu continuei o que tinha começado no domingo e emendado na quinta: encher a cara de prossecco. E ainda teve vinho branco e vinho tinto. Acordei com uma dor de cabeça fabulosa. Como disse Daniella, eu sai do Vigilantes do Peso e vou entrar no Alcoólicos Anônimos.
A primeira assembléia a gente nunca esquece Hoje foi a assembléia final para a votação do acordo coletivo da minha categoria de trabalho. Nunca tinha ido a uma assembléia. É interessante. Foi na entrada da empresa, na hora do almoço. Tinha muita gente. As pessoas se inscrevem para falar e discursam empolgadas. Os mais exaltados falam com o crachá na mão, como se ele lhes desse mais propriedade e segurança. E é um tal de perdigoto voando no microfone que é uma festa!
Mas o melhor de tudo foi constatar a quantidade de homem bonito que tem na empresa, ou melhor, só prédio em que eu trabalho. Uma coisa! Pra onde eu olhava, tinha um homem bonito. Tinha os de roupa social, os mais esporte, os novos, os velhos, tinha para todos os gostos.
Acho que vou freqüentar mais estas assembléias. Elas podem decidir meu futuro dentro e fora da empresa. ; )
Diálogos A festa está apenas começando. Show do Celebrare no meio. Eu e uma amiga fazemos trenzinho dançando um hit qualquer dos anos 70. Um cálega de trabalho se junta a nós atrás de mim.
– Olha, num vai roçar na minha bunda, hein? Ou você acaba com a minha reputação! Tenho ainda uns 30 anos de empresa até me aposentar e esta a minha primeira festa
*** Havia umas mulheres vestidas de cigana, brincando de ler nossa sorte em um baralho.
– Chama a cigana pra ela ler a sua sorte!, berra uma amiga menos alcoolizada, porém muito interessada em me fazer pagar mico.
Chega a cigana. Ela manda eu dizer o que quero.
– Um homem! – Guapo? – Pirocudo. (e indico com a mão o tamanho que eu quero) – Mas pode ser feio e pirocudo?, com sotaque espanhol. – Sim, sim!
Veio a carta com Shrek estampado. Um ogro. Ogros devem ter pau grande.
Em tempo: Acho que a cigana não era fajuta, não. Pelo menos numa coisa ela acertou.
Minha desgraça Descobri minha desgraça: prossecco. Rapaz, isso é pior que caipirinha. É fraquinho, levinho, refrescante. Você vai tomando, vai tomando e quando vê... tomô! Já era! Está bêbada, rendida aos cuidados dos amigos, que te servem água e coca-cola pra ver se você melhora.
O “você” no caso sou eu. Mais especificamente ontem, na festa de confraternização da empresa.
Histórias de Ursulão Ele operou catarata (pelo SUS, claro!) e eu tive que levá-lo para a revisão na segunda passada. Claro que no caminho ele falou várias vezes para eu chegar mais pra esquerda ou pra direita, mandou eu passar a marcha outras tantas e quis estacionar o carro simplesmente porque eu não ia saber. Como diz minha irmã, ele é o Arauto do Caos.
Já de noite, ele vira pra mim, falando baixo, num tom conciliatório, como quem quer dar um conselho, mas não sabe como fazê-lo:
- Ana Paula, você quando faz a curva, abre muito. Tem que fazer a curva juntinho do meio-fio.
Respondi um “tá, pai” bem protocolar e já dava o assunto por encerrado, quando ele comentou:
- Se você tiver que dirigir uma carreta...
Bom, ainda bem que ele mesmo riu porque eu caí na gargalhada.
- Então, é melhor eu treinar mesmo. Vou dirigir uma semana que vem, né?
*** Como Ursulão estava de óculos escuros no estilo Rei do Rock, minha irmã não perdeu tempo: - Elvis não morreu!
E ele: - Enterraram ele só de sacanagem,né?
*** Ursulão veio com uma piadinha:
- Sabe o que um botijão de gás falou pro outro? - Não, pai. - “Vou vazar.”
Histórias de Larinha Dia 2 de dezembro, foi aniversário de Larinha. 6 anos. A festa foi em um salão na minha rua. Quando a mãe voltou do salão, depois de arrumar tudo, ela perguntou:
- Mãe, os convidados já chegaram? - Ainda não. - São quantos? Quinhentos?
Tão modesta, essa minha sobrinha! Quem será que ela puxou?
*** Compromissos de trabalho me levaram ao Vidigal, morro na Zona Sul do Rio que tem uma das vistas mais lindas da cidade que eu já vi. Fui conhecer o programa de uma ONG que atende crianças e jovens em situação de risco social. Fiquei impressionada com a educação das crianças e dos adolescentes que nos cumprimentavam educadamente, com um sorriso e um “bom-dia” olhando bem nos nossos olhos. Acho que dei uns vinte “bom-dia” só na primeira hora que passei lá.
Lara, apesar de todos os nossos esforços, não tem essa educação toda. Se puder, ela foge de todas as visitas.
Contei pra ela o caso das crianças bem educadas. Ela fez uma cara de deboche, mas eu continuei.
- Larinha, todas elas falaram comigo. Cada uma que passou por mim, disse “Oi. Bom dia.”
Vingança é um prato que se come frio Numa sexta-feira dessas, marquei de sair com Raul depois do trabalho. O problema é que a gente não combinou, assim, certinho, e lá pelas tantas a bateria do meu celular acabou. E meu celular é daqueles que quando a bateria acaba, acaba mesmo. Não dá nem pra ligar pra pegar um número na agenda. De qualquer maneira, Raul não tinha confirmado nada comigo. Saí do trabalho, fui para academia, de lá pra casa e só liguei o celular de novo na manhã seguinte.
Tinha um recado do Raul: “Ana, onde é que você está? São 19h30 e eu já estou livre. Onde a gente se encontra?” Caralhos de asas! Liguei imediatamente para ele, pedi mil desculpas. Ficamos de marcar outro dia.
Esse outro dia chegou. O dia passou e nada de Raul ligar. Liguei pro trabalho dele. “Ele foi pra um curso.” Deixei recado na caixa postal do seu celular, esperei por ele até 18h30 e nada. Foi vingança. Só pode ter sido. E o pior é que o bruto não se deu por satisfeito. Eu combinei de ir na confraternização do trabalho dele, que era meu antigo trabalho. No dia que eu achava que seria o evento, liguei logo cedo:
- É hoje, né? - O que? - A confraternização. - Não. É dia 6.
Pois o bonitão tinha me passado um email dizendo que era dia 4. Vai guardar mágoa assim lá em casa! Raul, 100% rancor!
Perhaps love is like a resting place A shelter from the storm It exists to give you comfort It's there to keep you warm And in those times of trouble When you are most alone The memory of love will bring you home Perhaps love is like a window Perhaps an open door It invites you to come closer It wants to show you more And even if you lose yourself And don't know what to do The memory of love will see you through Oh ! love to some is like a cloud To some as strong as steel For some a way of living For some a way to feel And some say love is holding on And some say let it go And some say love is everything Some say they don't know Perhaps love is like the ocean Full of conflicts, full of pain Like a fire when it's cold outside Thunder when it rains If I should live forever And all my dreams come true My memory of love will be of you
Perhaps Love - John Denver & Plácido domingos
*** Ouvi hoje de manhã, ao chegar no trabalho. Tocado por um trio de violinos, harpa, flauta e violoncelo. Estando eu de TPM, achei mais lindo que o normal.
Em breve, minha amiga, não mais abraçaremos vocês e diremos assim no ouvidinho: gostooosa... Infelizmente. Pois do jeito que vai essa paranóia feminina de emagrecer, gostosas serão espécimes raríssimos. Sim, eu sei que tem homem que traça tudo que aparece. Mas até esse nunca vai achar gostosa uma magrela esquelética que mais parece um lego desmontando. Pois bem. Foi pra lutar contra esse absurdo que criamos a Samuca. Sejam todos bem vindos à Sociedade Amparadora da Mulher Carnuda.
Somos uma sociedade sem fins lucrativos. Nosso objetivo: ajudar a mulher a se libertar da cruel ditadura da magreza. Assim teremos mais mulheres carnudas.... e de bem com a vida. Se a mulher carnuda atrai mais pretendentes, imagine a mulher carnuda e feliz! E nós, homens do sexo masculino, finalmente poderemos chamá-las novamente de gostooosas. Será uma grande festa. Membro da Samuca pagará meia. Quem disse, minha querida, que homem gosta de esqueleto? Não gosta. Com exceção de antropólogo. Homem gosta é de mulher carnuda, mulher gostosa. Nós gostamos de pegar, apalpar, apertar, agarrar, espremer. Homem é parente do polvo, tem oito mãos, e todas elas, vem cá, deixa eu te dizer, todas elas amam deslizar assim, ó, pelo relevo ondulante do teu corpo, sabia?... subir e descer as protuberâncias... se enxerir nas reentrâncias... Ops, mas você não tem carne. Onde eu vou pegar? Mulher é como abismo de filme de ação: tem que ter um lugarzinho pra segurar senão adeus mocinho.
Ultimamente as mulheres só querem ter ossos. Suam, gastam fortunas, fazem dietas impossíveis, ficam mal humoradas, adoecem, morrem... Pra quê? Pra extirpar as deliciosas saliências com que a natureza lhes brindou e que tanto nos fascinam. Enlouqueceram? Não sei, isso tudo tá muito estranho... Essa paranóia é ridícula. Sei que vaidade é algo natural da espécie: o Homo sapiens se embeleza pra conquistar um bom parceiro. Mas como vocês esperam nos seduzir com ossos? Magra tudo bem, dá pra ser uma magra gostosa. Mas magrela não. Aliás, o magrelismo feminino exclui automaticamente a possibilidade de protuberância glútea, que, você sabe, nós amaaamos...
Gostooosa... Lamentavelmente, em vez de invejar a mulher que tem os homens a seus pés, muitas mulheres invejam a magrela seca desnutrida. Acontece que essa, mesmo fazendo compras em Paris, não atrai o bicho homem. Tá, uma mulher obesa também é complicado. Mas é possível ser gorda e gostosa, claro que sim. Infelizmente muitas de vocês estão tão paranóicas que se excitam mais com dieta que com sexo. Nessas mulheres a real felicidade se mede pela inveja óssea com que se provocam umas às outras. É o fim do mundo.
Escutem, meninas, por favor: isso é i-lu-são. E é contra essa ilusão que a Samuca luta. Oferecemos cursos gratuitos de DDM, desconexão da ditadura da magreza, com os melhores profissionais do mercado, eu inclusive. O que está esperando? Comece hoje mesmo! Venha sentir as delícias que só uma mulher carnuda pode ter! E você ainda ganha esse incrível controle remoto que também gela a cerveja. Heim? Não, não tem outro brinde, foi esse que o departamento de promoções escolheu. Toda essa paranóia é causada pela ditadura da magreza. Mas quem instalou essa ditadura? Arrá! O responsável por tudo isso é uma entidade muito poderosa. Ela é abstrata, descentralizada e tem ramificações em toda a sociedade e agentes infiltrados em banheiros femininos. E nós homens nunca a entendemos muito bem. É o terrível Mundamoda. Essa coisa maléfica é mantida por estilistas, donos de agências, publicitários, editores de revistas e empresários que, na verdade, têm ódio mortal das mulheres. Por isso se superam a cada dia no objetivo de torná-las infelizes em nome de um ideal de beleza que é tão ridículo quanto inatingível.
O mais chato sabe o que é? Muitas mulheres concordarão comigo, sim. Mas amanhã se sentirão novamente infelizes assim que passarem pela primeira banca e virem uma revista feminina.
Sim, é preocupante, minha amiga. Mas a Samuca tem a solução. Vou te resumir como funciona o curso de DDM. Nível 1: você presta atenção ao que realmente atrai os homens. Como sei que você gosta mais de sexo que de dieta, você vai conseguir. Nível 2: esqueça os elogios de seu amigo gay. Ele jamais te verá com os nossos olhos. Nível 3: você proíbe papo de dieta em sua casa. Sim, é necessário, qualquer amiga pode ser uma agente infiltrada do Mundamoda. Conseguiu passar desse ponto? Ótimo! Olhaí, você já tá com umas curvinhas bem apetitosas, hummm, a cinturinha boa de segurar... Desculpa, me empolguei. Quarto e último nível: você pára de comprar certas revistas femininas, a principal arma do Mundamoda. Elas na verdade são pílulas mentais que deformam a auto-imagem feminina. Passou desse nível? Maravilha! Olhe só pra você: você agora é uma linda mulher carnuda! E muito feliz! Uma mulher cuja maior preocupação será administrar a fila. Parabéns! Hummm, mas você... realmente... Vem cá, deixa eu te dar um abraço. Gostooooosa...
Ricardo Kelmer é escritor, letrista e roteirista e mora em São Paulo, Terra, 3a. pedra do Sol.
Estava na minha caixa de email hoje de manhã. Um amigo mandou.
A cintura, a costela e o espartilho Foi com uma mistura de nojo e vergonha que assisti a matéria do Fantástico deste domingo que falava sobre o que as mulheres estão fazendo para afinar a cintura. Dieta da moda? Massagem? Não. Cirurgia de retirada das costelas e uso abusivo e ostensivo de espartilhos com barbatana de lâmina de aço. É o fundo do poço, é o último degrau, a pá de cal no que restava de sanidade mental na busca pelo corpo perfeito.
Retirar costela é uma mutilação! As costelas protegem os órgãos do tórax. Como um médico se presta a sugerir e pior! a fazer uma cirurgia dessas?!?! Mas confesso que o uso do espartilho me chocou mais porque parece uma técnica de tortura, de autopunição, e á uma coisa tão doentia quanto bulimia ou anorexia que as mulheres até trocam dicas de como conseguir usá-lo por mais tempo via internet.
Não pensem vocês que não viram a matéria que o espartilho era daqueles que a gente vê sendo vendido em loja de lingerie, cheio de rendinha, elegante. Era daqueles usados em séculos passados para afinar ao extremo a cintura das donzelas e fazer seus seios saltarem às órbitas, quase junto com os olhos.
Uma das entrevistadas usa seu espartilho por NOVE HORAS(!!!) por dia no mínimo. Ela dorme de espartilho! Tem noção? A Renata Ciribeli, repórter que fez a matéria, colocou as mãos na cintura da personagem e quase a circundou totalmente de tão fina que era.
Outra personagem era uma menina de 15 ANOS(!!!) que já estava galgando seus primeiros passos no caminho da paranóia com seu corpo e baixa auto-estima. Os pais dessa criatura deveriam ser interpelados pelas autoridades competentes por permitirem que uma criança se torture deste jeito. Assim, como tatuagem e piercing são proibidos para menores de idade, espartilho também deveria ser.
No final da matéria eu estava quase vomitando e com uma vergonha “do Walter” por aquelas mulheres rasas, fúteis, que se renderam à ditadura da estética. Perdoai-as, Senhor. Elas não sabem o que fazem.
Já passou, já passou Se você quer saber Eu já sarei, já curou Me pegou de mal jeito Mas não foi nada, estancou
Já passou, já passou Se isso lhe dá prazer Me machuquei, sim, supurou Mas afaguei meu peito E aliviou Já falei, já passou
Faz-me rir, ha ha ha Você saracoteando daqui pra acolá Na Barra, na farra No Forró Forrado Na Praça Mauá, sei lá No Jardim de Alá Ou no Clube do Samba Faz-me rir, faz-me engasgar Me deixa catatônico Com a perna bamba
Mas já passou, já passou Recolha o seu sorriso Meu amor, sua flor Nem gaste o seu perfume Por favor Que esse filme Já passou
Amigo é pra essas coisas Certo dia, um cálega de trabalho me mandou o seguinte email angustiado:
Será que algum dia alcançarei um nível de abstração suficiente para conseguir cagar no banheiro aqui da companhia?
O impressionante é que eu estava pensando nisso exatamente naquele instante. Cagar aqui é missão impossível. O banheiro é enorme e é um entra e sai contínuo. Quando não é cálega é a moça da faxina dando uma geral.
Cogitei a idéia de procurar um banheiro mais reservado, esses de um casinha só, pra ter mais privacidade. Ele respondeu:
Não acho que exista. Ou você treina muito, mas muito mesmo em casa uma técnica ninja pra cagar sem peidinhos ou qualquer outro tipo de barulho, ou terá sempre que esperar pra cagar em casa.
Inferno.
E mais: (...) Pior que nego entra no banheiro sempre na hora exata que tá quase saindo, e geralmente com um suspiro sem saco, tipo "aaarrrgghhh.......". Não é? Parece que é sempre a mesma pessoa, pelo menos no banheiro masculino.
Ou então entram dois conversando. Não pode haver coisa pior do que interromper uma conversa de dois desconhecidos com barulho de peido. ÓBVIO que eles vão sorrir maliciosamente um pro outro te imaginando ali. Eles nem sabe quem você é, mas sabem que é alguém cagando. O que é engraçado é que é TÃO impessoal, mas ao mesmo tempo parece que eles SABEM quem você é, né??
Eu também tenho problema em terminar, em dar descarga. Porque aí você tem que sair em sei lá, 10 segundos no máximo. Quem fica ali dentro mais de 10 segundos depois de ter dado descarga? Só doente mental. Mas aí assim que vc aperta o botão, entra alguém assoviando, enfim. Ele entra e ouviu a descarga, você precisa sair, e ele SABE que você estava CAGANDO por causa do cheiro horroroso que você deixou ali!!!! Ele vai VER SEU ROSTO, você sai ou não??? Você nem sabe quem é, pode ser seu chefe, pode ser aquele seu colega de baia que vai te apelidar de cagão pro resto da vida!!!! GAAAAAHHHHHHH!!!!!!!
Mas qual não foi minha surpresa ao encontrar, numa bela manhã, um email seu. O assunto era “Uma grande vitória”.
Esqueci de te avisar, mas antes tarde do que nunca.
Semana passada consegui cagar no banheiro do andar. (...)
Achei que era algo importante pra dividir com você.
Um abraço e bom dia.
Fiquei feliz por meu amigo. É uma vitória, dada às circunstâncias. Eu mesma ainda não logrei êxito nesta empreitada. Mas um dia, chego lá.