História de Larinha Outro dia, estava eu na casa de Lara e soltei um peido na frente dela. Peido, não, gazes. Daqueles que só fazem barulho e saem involuntariamente (Posso ser uma grande filha da puta, mas não fico ensinando coisa errada – como peidar na frente dos outros – pra minha afilhada). Eu tentei ignorar, mas ela não perdoou:
– Isso é cocô.
E eu, meio sem graça:
– É...
– Mas você vai fazer cocô lá na casa da Vó Yara, tá?
Além de me deixar constrangida, ainda diz, discretamente, que eu não devo fazer cocô na casa dela e deixar o banheiro fedendo. Sacana...
O bendito exame da comilança Vocês, hein? Nem pra mentalizarem positivamente para eu ter que comer ao invés de tomar Dextrosol no exame de tolerência à glicose... Tive que tomar dois copos do açúcar em jejum e ficar de castigo no laboratório por duas horas para só depois colher o sangue novamente.
De tanto que me falaram que seria ruim que eu nem achei tão insuportável. Só ficava enjoada quando alguém com perfume mais forte sentava do meu lado. Agora, é aguardar o resultado.
E ainda tem mais! A granola que comprei ontem está velha e mole. Granola mole é uó!
Estou atacada da rinite.
Faltei a pós por causa da rinite e estou me sentindo culpada.
O chuveiro está frio de novo.
Será que dá pra começar tudo de novo? Pra começo de conversa, eu perdi o ônibus. Vinha chegando na esquina, quando ele passou. Esperei dez minutos pelo próximo. Não tinha lugar pra sentar. Fui em pé. Básico. Me aboletei perto de um gordo com umas tatuagens que pareciam feitas de canetinha, um cavanhaque fininho e um topete escroto. Ele gostou de mim. Sorrindo, pediu para segurar minha bolsas (Sim, além do guarda-chuva encharcado, eu levava duas bolsas). Ainda rindo perguntou se tinha “coisa de amassar” em uma das bolsas. “Tem papel...” e quase completei “que eu prefiro que não tenha a aparência de que saiu do cu de um chiuaua, dá pra ser?”. Minutos depois, vejo minha irmã e meu cunhado indo pro trabalho. De carro. Eles ultrapassaram meu ônibus, que de repente pára. Da primeira curva do Engenho Novo até o Senac na Marecha Rondon, estava tudo, tudo parado. Fiquei UM HORA em pé dentro do ônibus. Chovia. Os vidros do ônibus estavam fechados e eu estava de blusa de linha, cachecol, calça e botas. Eu senti uma gota de suor escorrer nas minhas costas. O simpático que segurava minhas bolsas, depois de me olhar repetidas vezes, resolveu puxa assunto. “Está indo pro trabalho?” “Não, pro cinema. Gosto de pegar a sessão das 8h da manhã.” Eu não disse isso, mas pensei. Grunhi que sim. É claro que não havia nada na pista da Marechal Rondon, a não ser guardas incompetentes. Desci do ônibus antes do ponto que costumo descer e peguei outro ônibus para o trabalho. Eu precisava me sentar e este outro ônibus passaria vazio naquele ponto. A trocadora do outro ônibus não tinha troco pra R$2,00 (o ônibus custa R$1,50...). Quando faltava um ponto para eu descer, ela resolveu me dar R$1,00 de troco. Quase, mas quase mesmo, chegando no ponto que desço, eu já estava na porta traseira, me preparando pra descer, e ela me gritou, dizendo que tem R$0,50. Eu voltei até ela, devolvi a nota de R$1,00 e peguei minha moeda. Voltei à porta traseira. Com uma hora de atraso, tinha finalmente conseguido chegar no trabalho. Quando entrei no prédio, surpresa!, não tem elevador. Subi três lances de escada.
Avião sem asa, fogueira sem brasa
Sou eu assim sem você
Futebol sem bola. Piu-Piu sem Frajola
Sou eu assim sem você
Por que é que tem que ser assim?
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil alto-falantes
Vão poder falar por mim
Amor sem beijinho,
Buchecha sem Claudinho
Sou eu assim sem você
Circo sem palhaço, namoro sem abraço
Sou eu assim sem você
To louco pra te ver chegar
To louco pra te ter nas mãos
Deitar no teu abraço, retomar o pedaço
Que falta no meu coração
Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo
Neném sem chupeta, Romeu sem Julieta
Sou eu assim sem você
Carro sem estrada, queijo sem goiabada
Sou eu assim sem você
Por que é que tem que ser assim?
Se o meu desejo não tem fim
Eu te quero a todo instante
Nem mil alto-falantes vão poder falar por mim
Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo
Por que?
Foi gravada pela Adriana Calcanhotto praticamente só voz e violão. Muito linda! Fofíssima!
Exame dos meus sonhos Tenho que fazer um teste de tolerância de glicose. O exame consiste em ter um pouco de sangue retirado, depois ingerir glicose e, após duas horas, ter outra amostra de sangue colhida. Chato? Não se entre um sanguinho tirado e outro você tiver que comer (sem culpa) pães, doces e o que mais lhe aprouver. É o exame dos meus sonhos! O problema é que no lugar da comilança, a técnica pode mandar você tomar Dextrosol, um líquido branco e tão doce que chega a enjoar. Por isso, corrente pra frente pessoal! Todo mundo torcendo pra não ter Dextrosol no laboratório e eu ser obrigada a encher o pandulho. A gerência agradece.
História de Larinha Minha mãe, mostrando a figura de um livrinho de história para Lara: Olha, Larinha, uma orquestra de formigas.
Lara: Não, vó. Tem joaninha aqui embaixo.
Minha mãe: Ah, é.
Na orquestra tem piano, pandeiro, violão, corneta pequena, corneta grande...
Lara: Não, vó. A corneta grande é trompete.
Quanta solicitude! Depois da briga descomunal por causa do chuveiro que não esquentava (motivo torpe, eu sei, mas foi ele quem provocou) que tive com meu pai, seguida dias depois de um piripaque que quase me fez desmaiar como da outra vez que caí de cara no chão, meu pai anda tão solícito comigo... Tô até estranhando.
Ainda agora ele foi lá na varanda fazer os cachorros da vizinha calarem a porra da boca só porque eu comentei que hoje eles estavam demais, em lugar me deixar tomar pelo ódio, levantar do computador, subir na janela e berrar a plenos pulmões impropérios e ameaças aos animais e sua dona.
E ontem?!?!? Ontem, eu vi uma super-barata perto da porta do quarto do quintal próximo ao tanque(o quarto pode ser chamado de lavanderia, para ficar chique, ou despósito de coisa velha, para ser honesta, mas todo mundo chama de quarto mesmo) e berrei para minha mãe vir matá-la com seu mega-peso-pesado (é na hora de matar barata que minha mãe se orgulha de ser gorda. Ela pisa no inseto e diz, com prazer: "80kg em cima dela! Essa morreu!"). Quando entrei em casa, meu pai estava saindo do meu quarto.
– O que foi? (Meu pai praticamente só entra no meu quarto quando solicitado) – Você não falou que tinha uma barata aqui?
– Não. Era no quarto lá de fora.
Não acreditei no que ouvi! Em outros tempos, meu pai seria capaz de permanecer imóvel se visse uma barata atacar minha jugular e agora está se levantando do sofá pra caçar o bicho no meu quarto... Nada como ficar com o cu apertadinho com medo da filha ter alguma doença "na cabeça".
Os meus problemas com latido de cachorro acabaram! Como este meu primo tem ido muito lá em casa, ele tem reparado que os cachorros da vizinha latem sem parar e se compadeceu de mim.
– Você deve sofrer porque a janela do seu quarto fica bem perto do quintal dela...
Essa vizinha (vamos chamá-la de T)diz que vai se mudar, mas não encontra casa ao seu gosto.
Outro dia, este meu primo foi com meu pai me levar ao shopping (ele fica de olho no movimento na garagem. Se vê que alguém vai sair de carro, se oferece pra ir junto.)e no carro, comentou:
– Ana Paula, sábado de manhã você vai fazer alguma coisa?
– Não. Por que?
– Porque eu estava pensando que a gente podia sair pra procurar casa pra T.
Genial! Acho que vou mesmo me empenhar nesta tarefa. O duro vai ser encontrar o otário que queria alugar uam casa para um criatura com mais quatro cachorros insanos que latem o dia todo.
Ajudante de cozinha Meu primo operado ainda não teve alta para voltar ao trabalho. Angustiado que está por ficar em casa de bobeira, ele tem se metido na vida de todo mundo. Outro dia foi lá em casa dar palpite na comida que minha mãe ia fazer:
– Vai fazer o que ?
– Não sei ainda. Tô pensando.–Responde minha mãe.
Ele abre as panelas.
– Coloca umas batatas nesta carne.
– O Lélio não gosta.
– Que não gosta o que! Ele vai comer! Me dá as batatas que eu descasco.
Ele descascou as batatas, minha mãe as cozinhou, colocou-as na carne e não é que meu pai comeu diretinho??? Acho que minha mãe encontrou o ajudante de cozinha perfeito.
Celebridade Meu primo fez um cirurgia “de hérnia”. Meu outro primo, que não vale o peido de um gato, disse que ele fez cesariana e diz pra todo mundo que vai visitar o operado:
– Já viu os filhos do D.*, Darlim e Marlim?
Maldade...
* D é a inicial do nome do meu primo. Qualquer semelhança com o D de Darlene Sampaio terá sido mera coincidência.
Gincana Uma das coisas mais irritantes que acontece lá na sala é quando neguinho quer contar algum “case” e esquece o nome da empresa. Aí, é um tal de tentarem adivinhar o nome.
– Ah, foi na Coca Cola, né?
– Não. Foi naquela outra... Meu Deus, eu li isso... Esqueci o nome da empresa... (Mentira. Leu porra nenhuma. Alguém contou pra ele e o babaca resolveu passar adiante pra mostrar toda sua cultura, mas como ouviu o galo cantar e não sabe onde, morre na praia.) – Em Furnas?...
A aula descamba para praticamente um Roletrando. Meu amigo não perde a chance de sacanear a situação:
– Maior empresa nacional do ramo petrolífero com nove letras?
Claro que esse sarcasmo fica entre nós dois que somos quase odiados por todos os professores e colegas de classe.
No par ou ímpar Em todo curso tem um “péla-saco” que ou faz pergunta na hora em que o professor vai terminar a aula ou faz um comentário fora do contexto e muda o rumo da prosa do professor ou adora citar fontes e dados para ilustrar suas magníficas falas. No meu, não: tem váááários pélas e cada um se encarrega de fazer uma coisa. Eu e meu amigo que tem câncer “sin perder la ternura” ficamos indóceis a cada manisfestação destes tipos. Ontem, enquanto uma das figuras fazia mais um de seus comentários descabidos, meu amigo sussurra no meu ouvido:
– Eu ou você?
E eu, distraída:
– O que?
– Quem vai lá dar uma porrada nela na frente de todo mundo? Eu ou você?
Porque me ufano de meus amigos(Como diria Roberta) Um amigo meu está com câncer. Um câncer raro que dá no pulmão dos não-fumantes. Pura putaria do destino, isso. Ele está fazendo quimio, está quase verde, careca, mas não entrega os pontos e continua levando a vida da melhor forma possível, sem perder o bom humor. Vez ou outra ele ameaça puxar meu cabelo, aí eu digo que isso é uma sacanagem porque eu não posso nem revidar (ele está careca) e ele ri e diz entredentes “filha da puta”.
Mas outro dia ele se superou:
– Só faltam duas sessões de quimio – me informou enquanto fazíamos um lanche.
– E você está bem? (Como se fosse possível estar bem com um câncer a roer seu pulmão, mas ele entendeu o que eu quis dizer.)
– Tô...
– E depois da quimio?
Ele levantou os ombros, mostrando que não sabia para logo em seguida levar a mão à boca para conter a gargalhada, que ia fazer chover pão na nossa mesa:
– Depois a gente vai decidir se entrerra ou crema.
A gente se conheceu tem pouco tempo, mas a identificação foi imediata. Por que será? ; )