Para refletir
Este texto foi encaminhado pela minha irmã. Uma mensamge linda.
Na favela, dois homens entram num barraco arrastando um cara pelos braços. Lá dentro, o Djalmão, um negão enorme limpa as unhas com um facão.
- Djalmão, o chefe mandou você comer o cu desse cara aí, que é para ele aprender a não se meter a valente com o nosso pessoal.
- Pode deixar ele aí no cantinho que eu cuido dele daqui a pouco.
Quando o pessoal sai o rapaz diz:
- Ô seu Djalmão, faz isso comigo não, depois de enrabado minha vida vai acabar, tem piedade pelo amor de Deus o homem santo.
- Cala a boca e fica quieto aí!
Pouco depois mais dois homens arrastando outro cara:
- Esse ai o chefe mandou você cortar as duas mãos e furar os olhos é para ele aprender a não tocar no dinheiro da boca.
- Deixa ele aí que eu já resolvo.
Daí a pouco chega outro pobre coitado:
- Djalmão, esse o chefe quer que você corte o pinto e a língua para ele não se meter com mais nenhuma mulher da favela!
- Já resolvo isso. Bota ele ali no cantinho junto com os outros.
Mais alguns minutos entra outro:
- Aí Djalmão, esse aí é pra você cortar em pedacinhos e mandar cada pedaço pra família dele.
Nisso o primeiro rapaz diz em voz baixinha, baixinha:
- Seu Djalmão, por favor, com todo respeito, só pro senhor não se confundir: o cara do cu sou eu, tá?
Moral da história: conforme a gente vai conhecendo os problemas dos outros, percebe que o nosso nem é assim, um problemãoooo.
Programa furado e resposta cretina
Uma das coisas que mais gosto na Revista O Globo é a coluna Programa Furado. Eu e a torcida do framengo porque o sucesso da coluna até rendeu uma capa para ela outro dia. Voltando à vaca fria, o que eu mais gosto nesta coluna é ler as respostas dos restaurantes, cinemas e tal. É de rolar de rir. Umas são grosseiras mesmo e não escondem porque o estabelecimento foi parar ali; outras saem pela tangente desdizendo, mui gentilmente, o reclamante e convidando-o a retornar ao local para um jantar ou qualquer coisa que o valha; outras não negam o problema, e sim o relatam do seu ponto de vista. Estas geralmente são as mais engraçadas (e irritantes para quem escreveu para a revista). Veja esta resposta que saiu hoje. Uma mulher reclama que ela, o marido e a filha de 1 ano foram destratados e expulsos do Armazém Devassa porque a filha do casal brincou com os saches de sal, sem destruí-los, ela avisa. Disse que os proprietários os agrediram verbal e quase fisicamente. Que coisa, hein? Qual seria a melhor resposta para um babado desses? Para um babado desses e qualquer outro, diga-se de passagem, o melhor que a loja tem a fazer é se desculpar. Afinal, “o cliente tem sempre razão”. Bom, deveria ter, mas no Rio não tem. Nunca. Qual foi a resposta da assessoria de imprensa da casa? “Os proprietários afirmam que sempre trataram todos os clientes com respeito, inclusive a família da leitora, e reiteram que não houve qualquer tipo de agressão. No episódio, o que houve foi um pedido gentil para que a criança trocasse a brincadeira com o sal por uma atividade lúdica.” Cara, não vi a cena, não conheço a família ofendida, nunca pisei no Armazém Devassa (nem pretendo pisar porque ele fica em Ipanema e Devassa por Devassa tem um na minha esquina), mas juro que eu não consigo realizar um dono de bar pedindo gentilmente “para que a criança troque a brincadeira com o sal por uma atividade lúdica”. Juro! Não casa, não bate, não fecha. Beira o deboche com a mulher, com os leitores e os clientes. Como não fui eu que reclamei, eu ri da resposta, mas garanto que a mulher ficou mais puta da vida e vai contar a história carregando ainda mais nas tintas e destacando a resposta cretina que teve.
Sei que a “função social” é da vazão á raiva dos clientes e não promover a melhorias dos serviços, mas o pessoal do balcão podia tentar fingir que vai melhorar, né? Não custa e é mais simpático.
(Mas para que ser simpático, ora pois? Se o dono do Devassa também é dono do Informal que é o mesmo dono do Belmonte... Sei lá se tem os mesmos donos mesmo. Não me interessa. Estou dizendo isto porque aqui tudo é monopólio ou quase. Das empresas aéreas até o mercado da esquina, os concorrentes são do mesmo dono. “Dane-se o cliente. Ele vai TER QUE comprar comigo mesmo, de um jeito ou de outro.” Aí não tem coluna em última página de jornal de domingo que dê jeito em atendimento ruim, né?)
Rapidinhas
Sexta-feira acordei e mal consegui abrir a boca para comer minha banana matinal. Fingi que nada estava acontecendo, mas não deu jeito: estou trincada até hoje e tive que ir à dentista. Sabe Deus o que eu fiz de madrugada (não, não foi boquete, teria sido um motivo nobre), mas minha mandíbula está desengonçada de verdade. Devo ter bruxismo ou só estar trincando os dentes ou ainda posso ter dormindo de mau jeito, com a mão embaixo do rosto, por exemplo, e escangalhou tudo por aqui. Vou ter que tomar antiinflamatório e relaxante muscular para dormir calminha e não piorar a situação.
****
Saiu o livrinho do acordo coletivo da empresa. Levei pra casa para ver quantos anos ainda tenho que trabalhar para chegar ao nível que paga o salário que as pessoas pensam que recebo hoje.
Feliz, feliz
Tipo assim, tô feliz. Feliz só, não. Aliviada. Hoje nasceu um filho que eu gero há quatro anos. Muitas contrações, respiração cachorrinho com intervalos cada vez mais curtos. Foi a fórceps, claro. Doeeeeeeeeeeuuuuuuuuu. Mas ele é lindo. A cara da mãe.
Vou contar: quando eu entrei na empresa que trabalho agora, em 2006, devido a minha “vida pregressa”, fui brindada com a tarefa de analisar e propor melhorias ao programa de voluntariado de lá. Ele estava no fim da sua primeira etapa e queriam uma segunda temporada cheia de suspense, emoção e ganchos imperdíveis. Em parceria com um calega de repartição, fui pro mercado ver o que já faziam (pra fazer igual, mas diferente e melhor), estudei o tema, fiz curso, estudei a empresa (ambiente novíssimo pra mim), conversei com dúzias de colegas de trabalho, com as pessoas que eram voluntárias, com quem não era, com quem gerenciou o programa, com quem criou o programa... Enfim, ainda que a proposta da nova etapa do programa não fosse aceita, a experiência tinha servido para eu conhecer meia empresa em menos de quatro anos de casa.
Trabalho de casa em dupla (sempre o calega do lado) feito, apresentamos a proposta da segunda etapa do programa de voluntariado para a gerência. Na primeira prova, fomos aprovados com louvor. O programa seria lançado em 2007. Mas antes tinha que consultar “as bases”: apresentar o programa em diversas reuniões, seminários, road shows, palestras, cursos e para diferente níveis salariais (pro chão de fábrica, pros gerentes e pros diretores) . Ufa! Feito isto, já estamos em 2008 e ainda temos que criar a ferramenta online que vai tornar o programa possível de ser implantado. Depois de idas e vindas e muita queda de braço com a TI (a TI me faz crer que a tecnologia não veio para facilitar a vida e sim, complicá-la), ela está pronta, linda, loura e afronipônica, doidinha para ser usada e abusada por todos os voluntários! Maaaas uma conjunção astral desfavorável empurrou o lançamento do programa para 2009 e depois para 2010. O programa foi lançado hoje! Oito adiamentos e quase quatro anos de espera depois (com um surto no meio: no dia que a chefe me chamou para dizer que tinha ganho uma letra (leia-se: recebido avanço de nível salarial) e que eu ia ganhar duas mariolas e um vale-transporte a mais de salário, eu disse “legal, mas tô de saco cheio” e despejei um monte de reclamação sobre o trabalho que não andava, sobre minha falta de estímulo, minha vontade de jogar a toalha, de pegar outra tarefa, de mudar de gerência, de trocar de emprego, de sumir! É, eu estava de TPM, devia ter escolhido outra data para esta conversar, mas estava feito e era tudo verdade mesmo.).
Como a gestação foi longa, eu me dei a tarde folga para ficar de resguardo. Amanhã arregaço as mangas e vou criar meu rebento.
Em tempo: era eu quem estava lá no palco falando em nome da empresa sobre o programa. Antes de o evento começar, uma amiga liga: “Você é a redenção do chão de fábrica!”. Ousado, meu gerente abriu mão de “ser a cara” do programa e me indicou para a tarefa. Eu estava uma pilha de nervos e acho, sinceramente, que não ganho pra isso, mas de fato foi uma quebra de paradigma, pois a cultura na maioria das “corporações” (e lá não é diferente) é que os bugres trabalham e os chefes aparecem nas cerimônias.
Em tempo 2: dizem as boas línguas que eu me saí bem. Peidei e sapateei* no palco e tinha o público na mão.
*Piada interna. Eu não sei sapatear e muito menos peidei no palco, minha gente. Aqui a expressão significa algo como tirar onda.
Sexta fui dar vazão ao lado brega de ser no show da Alcione no Rival (sente o nome do show: Acesa. Sensacional). Pois bem, depois de cantar Sufoco e outras pérolas da dor de corno junto com “Marrõ”, eu e os calega tudo fomos comer uma pizza porque ninguém é de ferro. Na mesa, o amigo da minha amiga disse que quando ela cantou “você é um negão de tirar o chapéu” para o Pitanga que estava na platéia, ele só lembrava daquela cena clássica do ator no filme Rio 40º beijando uma loura e a câmera descendo, descendo, descendo... e só lááááá embaixo, quase na altura do joelho, a pitanga do Pitanga termina. Ele completou, quase indignado:
– Ah, mas não sei como mulher pode agüentar pau grande...
E a gente (as três mulheres da mesa) tentando disfarçar a cara de “amo muito tudo isso” pra não constranger o rapaz que assinou recibo de piroquinha. E ele continuou:
– A mulher pra agüentar aquilo tem que ser oca! No mínimo, não tem a vesícula!
A gente riu muito, mas descordava do rapaz. A amiga dele tentou amenizar:
– É, pau pequeno é mais versátil...
Mas a outra mulher da mesa não poupou sinceridade:
– Ah, amigo, eu agüento a dor!
Abstive-me de comentários, visto que tinha nenhuma intimidade com o rapaz para expor minhas preferências da anatomia masculina, mas aqui, cá entre nós, que ninguém nos ouça, posso confessar: pau pequeno é uó! Não dá jeito pra quase nada e sempre deixa um gostinho de quero mais.
Neste ponto nós, mulheres, somos mais afortunadas que homens, pois a medicina estética avançou muito mais pro nosso lado: se nossa natureza não nos favorece com seios volumosos, o silicone nos salva, fora as “cirurgias plásticas íntimas”, como dizia o folheto que uma amiga do trabalho recebeu na rua, que prometem grandes lábios vaginais bonitos, lipoaspiração da púbis para deixar a xoxota um tanquinho e a reconstrução de himem. Enquanto isso, os pobres ainda não têm uma prótese peniana eficiente e eu divido que aqueles emails de “enlarge your penis” funcionem.
Pesando bem, afortunados são eles que podem ter mulheres com peitão, boceta recauchutada e tudo o mais e a gente tem que aturar pau pequeno... Ai, ai...
Devo ser muito pobre ou mão de vaca porque não achei nada tão barato por lá. Nem a comida. Aliás, não gostei do tal bife de chorizo. Enorme, cru e gorduroso. Deixei metade no prato. Prefiro o nosso corte do contrafilé ou picanha. Alfajor eu adoro e me fartei de comer por lá. De várias marcas e sabores. Também comi doce de leite e tomei sorvete Fredo. Não agüentava mais “queso y jámon” e estava louca por um pãozinho francês com queijo minas ou mortadela defumada.
Várias vezes tive vergonha “do Walter” ao ver aquela horda de brasileiro comprando loucamente, carregando sacolas e mais sacolas de compras sempre. Um casal quase lotou o guarda volumes do MALBA com suas compras. O que eles foram fazer no MALBA?!?! Não era melhor ter ido a outro outlet? E parece que essa gente mora na roça, que quando vai a “capitar” tem que comprar as novidades que na “vila” não tem. Coisa mais estranha... Eu ainda sou do tempo que em viagem se comprava apenas souvernir.
Well, falando assim parece até que eu não comprei nada. Comprei, sim, mas só recuerdos de viaje, coisas lindas, únicas e essenciais (hehe) que eu não encontraria aqui no Brasil. Vamos a elas:
• Pinguins feitos de cabaça pintada de Ushuaia para a cozinha.
• Duas escultura em papel (uma para mim e outra para um casal de amigos que se casou há pouco e ainda não tinha ganho presente). Coisa fina. Da loja Tribus del Su, em El Calafate.
• Cerâmica de uma artista premiado na Argentina, cujo nome me foge agora, mas o que importa é que é linda. Fiquei encantada também com um conjunto xícaras, bule e açucareiro de cerâmica deste mesmo artista que tinha na Tribos del Sur, mas custava $350,00 e certamente eu não usaria. Me segurei e não comprei. Ainda me resta um pouco de sanidade. Não lembro o nome da loja em que comprei a cerâmica (uma grande, esquina com a 9 de Julio), mas nesta mesma loja tinha um cactos feito de chapa de aço que ia ficar ma-ra-vi-lho-so na minha sala (já que planta nenhuma sobrevive, quem sabe um cactos de aço resiste?). Pena que ele era um pouco pesado e custava módicos $580,00. Também de El Calafate.
• Quadrinhos com fotos da placa onde se lê “Ushuaia – el fin del mundo” e “Mi Buenos Aires querido”. Fofos. Um de El Calafate e outro de Buenos Aires, respectivamente.
• Prendedor de recado imantado “Araña”. Da loja do MALBA. Lindo de viver. Tinha visto na TV pregado na geladeira em um programa sobre culinária. Quando vi na loja do museu, pirei. Neste dia estava acompanhada de um casal de idosos de Juiz de Fora e a senhora, sábia, disse: “Compra, minha filha. Se você gostou, compra. Já é fim de viagem.” Ai, palavras mágicas! Em cada loja que eu entrava em BA elas me vinham à cabeça!
• Chaleira azul metálico, vassourinha e pá em formato de bailarina, porta-cartão de visitas com estampa da Frida Kahlo e ímã de geladeira da Evita Perón. Tudo na loja Artentino. Esta loja brotou no meu caminho, quando eu saia do Café Tortoni, ou melhor, da fila para entrar no Café Tortoni, e ia para a estação do subte para voltar ao Retiro, onde ficava meu hotel. A loja tem muitas coisas lindas e eu comprei o que meu $ podia pagar e o que minha mala podia comportar.
• Um CD da Mercedes Sosa e um de Carlos Gardel, este último para minha mãe, mas que eu já fiz uma “reprodução cultural”.
• Cinco puxadores de cerâmica da loja Falabella, na Calle Florida. Esta loja é um sonho! Tem aquelas malas antigas, tem bombas de gasolina antigas, tem telefones antigos... Um bando de coisa nova com design de antigamente. Dizem que a Chandon lá estava de graça. Ainda bem que não vi. Nem me aventurei muito pela loja porque ia ficar louca pra comprar um monte de coisa que não poderia levar na mala. Comprei os puxadores porque eram lindos e estavam baratos ($3,50) cada, mas não sei se vou colocá-los no criado mudo (comprei dois com este fim, mas agora estou na dúvida se “orrrrna”) e fazê-los de porta-biju (os outros três eram para isto). Não tenho a menor habilidade manual e acho que não vai rolar.
Ah, teve o casaco, o protetor de pescoço, o gorro e as luvas em Ushuaia, mas eram coisas úteis cuja compra já estava planejada, e postais por onde passei (para a coleção).
No dia 7/02, o horóscopo da Revista O Globo dizia o seguinte: “Muita energia concentrada. Dê um jeito de dar uma volta em lugares tranqüilos. Experimente só e troque energia com toda a vida que está espalhada por aí. Você vai gostar de lembrar disso.” Ainda bem que eu estava a caminho da Argentina para conhecer Ushuaia, El Calafate e Buenos Aires. Sozinha. Bons auspícios.
Passei dez dias viajando por lugares lindos, em contato com a natureza de uma forma que eu nunca estive nem pensei em estar. Ir sozinha deu uma bossa a mais à viagem. Garantiu introspecção, contemplação daquela beleza toda e (vamos falar a verdade?) tranqüilidade para eu fazer o que quis na hora que eu quis. Muito recomendo uma viagem sozinha pelo menos uma vez na vida.
O roteiro era descer até o Fim do Mundo, Ushuaia, depois subir para ver os glaciares em El Calafate e, por fim, flanar por Buenos Aires. Em Ushuaia e El Calafate é frio, muito frio (sabe aquela fumacinha que sai da boca quando você fala no inverno? Lá sai uma fumaçona!). Nem tente ir nas férias de julho, invejoso leitor. Vai ter que esperar o próximo verão. A menos que você não se importe de virar um picolé. Eu desejei ter aquelas botas peludas por dentro e gorro passa-montanha. O que eu levei não deu conta e eu comprei uma “campera” (casaco que esquenta de verdade), um par de luvas (levei de lã e de couro e não esquentaram muito), gorro e protetor de pescoço. Tudo de um material feito flanela, só que mais grosso.
Ushuaia é mesmo o fim do mundo. Pra você ter uma idéia, de lá saem cruzeiros para a Antártida. Eu fui ao Parque Nacional da Terra do Fogo, andei no Trem do Fim do Mundo, visitei a Baía Lapataia (quase congelei às margens dessa baía!), naveguei pelo Canal de Beagle, vi os pássaros da Isla de los Pájaros, os lobos marinhos também na sua ilha, o Farol do Fim do Mundo e os pingüins, muitos, vários, nadando, andando, todos lindos na sua ilhazinha! Conheci também os lagos Fagano e Escondido, a estação de esqui Cerro Castor, o Museu do Fim do Mundo e o Museu do Presídio. Mas o que mais me encantou em Ushuaia foi a visão, pela primeira vez, da “cordijera” de los Andes. De magnitude ímpar.
Duas fotos da vista da janela do quarto do hotel
Em El Calafate eu fiz um passeio de 4x4 subindo um morro para ver a cidade do alto e também para conhecer a savana patagônica. Uma paisagem incrível.
Lá, também naveguei pelo Lago Argentino e vi os glaciares e seus icebergs bem de pertinho. Mais de perto ainda eu fiquei foi do glaciar Perito Moreno, o menor, porém o mais famoso porque sua ruptura promove trovoada e desabamento de gelo e um espetáculo fabuloso. Coloquei os grampones nos pés e andei sobre ele! Não completei o trekking (de 1h30) porque a rinite não deixou (venta muito e é muito frio sobre uma montanha de gelo, você pode imaginar). Mas por ter voltado para o refúgio, eu tive a oportunidade de ficar sozinha (tá bom tinha uma japa também, mas ela ficou longe de mim, na dela) observando o glaciar, aquela brancura toda, ouvindo suas trovoadas, e pensando na vida. Foi ma-ra-vi-lho-so.
Ver os glaciares se rompendo e ouvi-los “trovoando” era como se lembrar que a vida não é um privilégio meu nem seu: aquelas montanhas de neve compactada, pressionadas pela Península de Magalhães e pelas águas do Lago Argentino também estão vivas, a Cordilheira também. Além disso, fui lembrada da nossa finitude em contraponto com a perenidade (ou pelo menos de uma finitude bem retardada, digamos assim) da natureza, pois, hoje estamos aqui, amanhã morremos , quiçá reencarnamos e a Cordilheira e o lago e o glaciar estarão lá. E estavam beeem antes da gente chegar. Eles podem mais que a gente. Essa grandiosidade da natureza foi esfregada na minha cara!
Perito Moreno visto das passarelas do Parque Nacional dos Glaciares
Depois teve Buenos Aires. Bonita, mas sem graaaaaaaaaaça, coitada. Cidade apenas, com atrativos que não podem competir com glaciares, pingüins e cordilheira. O lugar que mais gostei e o que ficou foi o MALBA, onde pude ver de novo Frida Kahlo.