Deixe seu preconceito de colonizado de lado e vá a Lisboa. É uma cidade linda e você vai se sentir em casa por causa da língua e de todas as referências à nossa cultura que irá perceber. Outra coisa que eu gostei muito em Lisboa foi o humor dos portugueses. Tudo bem que quando eles dão de serem grossos, ninguém segura, mas têm lá seu senso de humor. Um humor meio torto, meio grosso, talvez por isso, bem português.
A gente entrou em um hotel para pedir informações sobre o ônibus de turistas, aqueles de dois andares com sistema de som em diversas línguas. O cara foi super solícito, explicou tudo e tal. Aí, a gente falou que ia pagar com cartão – nós levamos Visa Travel Money, um cartão de débito, em lugar de travellers checks – e acabou desabando que em alguns restaurantes tínhamos tido problema em dividir a conta, que só aceitavam que fosse paga com um cartão ou que tinha mínimo, enfim, reclamação de turista. O cara, mais uma vez simpático e solícito, disse que isto era besteira, que sempre era possível dar um jeito para agradar ao cliente, que lá – no hotel – eles aceitavam qualquer cartão e quando acabou de fazer seu discurso todo bonito em prol do bem estar do turista olhou para os cartões que nós, todas confiantes, havíamos tirado das carteiras e, muito sério, disse:
– Ah, esse nós não aceitamos.
Ainda bem que ele riu em seguida porque a gente estava tão escaldada que nem percebeu que era piada.
De outra vez, estávamos nós na Pastelaria de Belém, caía uma chuva daquelas e depois de termos pedido a conta, resolvi tomar um expresso pra passar o tempo. Quando o garçon veio com a conta, eu disse:
– Você pode me trazer um café e incluir nesta conta?
E o cara, bem sério:
– Não.
Ainda bem que ele riu porque eu fiquei em suspense por uns segundos. Apesar de ser o segundo a fazer uma graça dessas, a gente nunca sabe se eles estão sendo engraçados ou grossos mesmo.
Aliás e a propósito Deu pra sentir a grosseria lusitana já na aeronave da TAP – Tamancos Aéreos Portugueses. As comissárias de bordo são de uma grosseria ímpar! É só alguém se levantar quando o sinal de apertar os cintos está acesso pra uma berrar “sente-se, por favor”. Apesar do “por favor” é um berro de estremecer o passageiro.
E a má vontade? Resplandece! Você pede uma água e pela cara da mulher você pensa que ela cuspiu no copo.
Em tempo: E que nenhum português ou parente ou descendente de português me venha fazer grosseria nos comentários. Sangue português também corre em minhas veias e sei responder na mesma moeda, viu?
Esses estrangeiros fantásticos e seus sotaques maravilhosos Em Amsterdam e Aberdeen convivi com os “maridos estrangeiros” das amigas – da Fernanda e minha, respectivamente – que nos recepcionaram e era muito divertido ouví-los falar português. Sim, porque eu acho muito simpático eles aprenderem esta língua (quase) morta que é português e admiro o empenho em entender nossa gramática e fonética, mas que é muito engraçado ouví-los, ah, isso é.
O de Amsterdam tem uma história incrível sobre ser “um simples filho de carneiro” que eu vou deixar pra Fernanda contar e também soltava frases como “eu fala, é”, ou seja, algo como “eu tenho razão” ou “quando eu falo, estou certo”.
O marido da minha amiga de Aberdeen fala português melhor, mas ficou meio cabreiro quando viu que algumas das palavras que sua mulher (minha amiga, brasileira, carioca da Zona Norte) fala, a gente não conhecia.
– Vivi, você me ensinou português errado.
As palavras são tracafaia, que ela usa no sentido de bagunça, tralha, e cabrunco, que usa pra adjetivar pessoas e que eu sinceramente não sei o que significa, mas sei que não é boa coisa porque ela franzia a testa pra dizer que “Fulano é meio cabrunco”.*
Engraçado mesmo foi no dia que a gente estava no carro indo para uma destilaria de uísque e ele soltou um “ó véia” e ninguém sabia se ele queria dizer “olha a velha”, “olha o velho” porque eles erram muito o artigo ou “ovelha” porque pela beira da estrada tinha muita ovelha pastando. Na dúvida, a mulher dele engatou num papo sobre os velhos da cidade, mas ele disse que estava falando das ovelhas (ou ao contrário, não lembro bem. Acho que foi o uísque que afetou minha memória. Ic!)
A gente riu tanto disso que ele disse que já se via personagem de um vídeo no You Tube falando “ó véia” em ritmo de funk, mixado com marido de Amsterdam falando “eu, um simples filho de um carneiro” e “eu fala, é”. Até que ia ficar legal.
* O Michaelis virtual e o Aurélio não registram estas palavras. Joguei-as no Google e achei um Dicionário “campistês” que tem as duas palavras, mas com sentido diferente do que Vivi usa.
Falar em You Tube Vivi sabe de cor e salteado o vídeo “cacete de agulha” e repete todas as falas à exaustão. O marido até faz cara de resignado e diz “de novo” baixinho quando ela começa a imitar o carinha doando sangue que aparece no vídeo.
Não sei o que é mais engraçado: se o mineiro doador de sangue reclamando da agulha ou se é Vivi imitando o moço.
Como (ainda) não tem vídeo da Vivi interpretando o personagem no You Tube, fiquem com o original.
Sorriso de atriz de novela das oito Vocês conhecem alguém que traz pasta de dente como mimo de viagem? Bom, agora conhecem: euzinha. Trouxe duas pastas clareadoras. Duas por 1,99 libras! Uma pechincha. E me arrependo de não ter trazido mais.
Já que minha dentista se recusa a fazer clareamento dos meus dentes, eu faço por conta própria.
A pasta deve ter muito abrasivo porque quando eu acabo de escovar os dentes eles parece mais limpos que com as pastas brasileiras. Ficam lisinhos. Parece que estou vestindo uma calcinha que acabei de tirar da gaveta! Estou maravilhada.
Aguardem para ver meu novo sorriso. Isto é, se os dentes resistirem ao abrasivo da pasta.
Mimos de viagem Com o dólar atingindo patamares nunca antes registrados na história deste país, não pude fazer a farra dos cartões de crédito e sangrá-los até meu último centavo de crédito. Assim, limitei minhas compras aos euros que tinha. Ainda assim, deu pra me divertir. Eu trouxe:
- um chaveiro do Vasco, mascote do Oceanário de Lisboa, por quem me apaixonei; - uma vaca em miniatura que comprei no Oceanário de Lisboa; - um anel que comprei na Casa Battló, em Barcelona; - um dragão do Parc Güell, também em Barcelona; - uma bolsa de onça comprada na Primark de Aberdeen; - uma mala de vaca comprada na Primark de Londres; - vários postais de diversos lugares.
Atualização: um livro em inglês.
Ganhei das minhas calegas de viagem, a título de presente de aniversário adiantado, um ímã da Frida Kahlo e um cofre "I'm saving up for some therapy!" ("A penny a day keeps the madness away!" Sensacional!) comprados em uma loja muito maneira em Amsterdam, uma Imaginarium turbinada.
Atualização: mais produtos da linha da The Unemployed Philosophers Guild, da qual Frida faz parte, aqui. Mais cofrinhos, aqui.
Breaking News Queria muito contar pra vocês todas as minhas aventuras pela Zoropa, mas acabei de colocar unhas postiças e está quase impossível digitar. Tô parecendo atriz de filme pornô.
Sobreviveram a minha ausência? Espero que sim. “Minha aventura” foi sair pela primeira vez do país: fui dar pinta pela Europa. Lisboa, Barcelona, Amsterdam, Aberdeen (na Escócia) e Londres.
Tô cheia de história pra contar, umas mil fotos pra postar (brincadeirinha...), mas sem nenhuma vontade de escrever agora. Tenho ainda mala pra desarrumar, roupa pra lavar, sono atrasado pra botar em dia... Mas tenho uma historinha. Foi antes de viajar. Liguei para minha operadora de celular para habilitar minha linha para uso internacional. O atendente era zuper zimpático.
– Vamos para onde?
“Vamos”? Vamos quem, cara pálida? Que eu saiba você não vai viajar comigo... Como eu estava de bom humor porque estou de férias e ia viajar, eu não fiquei irritada, só achei engraçado.
– Europa.
– Hummmm... Estamos chiques!
E eu segurando o riso.
– Você vai pra que país?
– Vários.
– Hummmm... Que ótimo.
O cara me passou as 954 operadoras disponíveis, as 1.510 tarifas possíveis e as 300 instruções que eu teria que seguir, caso contrário meu celular se autodestruiria em cinco segundos.
Mas depois tudo isso eu tinha que aguardar o número do protocolo do atendimento e o sistema estava lento. Maldito sistema. Tudo é culpa do sistema. Eu quase pedi, então, pro cara me deixar ouvindo “Pour Elise” no modo de espera, mas ele quis conversar.
– Quer dizer que você vai pra Europa? Vai sozinha?
– Não. Com duas amigas.
–Três mulheres? Soltas na Europa? Hummm...
Ai, caraleos. O cara nem me conhece e vem fazer graça com o fato de eu estar com mais duas amigas “solta” na Europa. E ele não é primeiro a fazer esta graça. O que esta gente pensa? Que vamos tocar o zaralho no Velho Mundo? Gente, eu sou careta! Eu sou careeeeeeeeeeeeta, ok?
– Você vai voltar outra da viagem. É uma viagem transcendental.
Hein?
– Não só pela cultura, pelo lugar, mas é que o povo de lá é muito louco!
Essa gente vai pra putaria quando está em lugar onde não conhece ninguém e acha que eu ia fazer o mesmo. Por quem tu me tomas???
Enfim, saiu o número do protocolo. O cara se empolgou na despedida. Me desejou boa viagem, que tudo corresse bem, que o telefone funcionasse... Estava tão empolgado que pensei de dizer “se espirrar, saúde” e “feliz natal e próspero ano novo”, mas puxou o freio de mão de uma hora pra outra (praticamente deu um cavalo de pau com a língua) e disse: “É isso. Boa noite”. Então, tá. Boa noite.
Em tempo: o telefone funcionou. Eu é que evitei fazer ligações porque custava em média mais de dez Reais o minuto.
"Querida mãe, Buenos Aires ficou para trás. Assim como a vida chata: a faculdade, as provas, as dissertações. A nossa frente se estende toda a América Latina. Doravante só confiarempos na Poderosa. Quisera pudesse nos ver. Parecemos aventureiros. Inspiramos admiração e inveja em toda parte."
Do filme Diários de Motocicleta.
Este blog está de férias. Infelizmente, a viagem não é como a de Che e Granado. É uma prosaica viagem de férias. Com tudo programado, hotel reservado, transfer. Pouca aventura, comparada a uma viagem por toda a América Latina em cima de uma moto e depois a pé, mas é a MINHA aventura. Até breve.
Música para foder Certa feita, estava eu conversando com um calega de trabalho sobre música. Pra falar a verdade, não lembro bem do papo. Era a comemoração do aniversário de uma calega em comum e ambos estávamos alcoolizados. Fato é que eu falei da categoria "música para foder". Ele perguntou que tipo de música era essa e, pra falar a verdade de novo, não lembro qual foi minha resposta, mas hoje, agorinha mesmo, pra falar a verdade mais uma vez porque eu sou uma pessoa muito sincera, eu ouvi uma música que se enquadra perfeitamente nesta "catigoria": Love is a losing game, de Amy Winehouse.
É uma música meio triste, para uma foda de reconciliação, talvez, com aquele palhaço que você sabe que não vai ter jeito, que não vai mudar, que não te ama, mas que tem uma pegada (ai, ai) que te deixa querendo apostar todas as cartas nesse jogo de azar que é o amor, mesmo que ele, o adversário, seja um jogador muito melhor que você.
Eu e os taxistas Ai, ai... Acho que dava um blog só sobre isso. Mas o caso é o seguinte: eu peguei um táxi para ir do Centro à Gávea e voltar, ou seja, uma viagem intergaláctica de ida e volta. Vários anos-luz de distância. Looongo trajeto... Ainda mais quando o taxista resolve bater papo. Este estava inspirado, ou melhor, carente. Queria conversar. E ele falou de tudo.
Começou, claro, pelo clima (“Calor, né?”) e ato seguinte estava falando de política. Pelo menos falou mal do Bolsonaro. Como concordei, ele tomou gosto e entrou a falar sobre os anos da ditadura militar. Disse que o pai “foi sumido” e que cinco tios foram torturados. Ok, ok, você é trololó assim por causa disso. Entendi. Nada mais justo. Qualquer um ficaria trololó. Mas já que me compadeci de você, você acha que pode prosseguir falando e prossegue.
Não lembro qual foi o próximo assunto – ele falou de muita coisa porque você sabe que taxista entende de tudo – mas nada foi amenidade. Só assunto punk!
Quando eu cheguei ao meu destino na Gávea, fui resolver o que tinha que resolver, enquanto ele me esperava no estacionamento. Voltei e ele dormia como um bebê, mas foi só abrir UM olho para recomeçar a tagalerar! Ai, pena que ele não podia dirigir dormindo.
Quando estávamos quase chegando de volta ao Centro, dois sinais de trânsito antes de eu descer, não sei por quais caminhos ele enveredou na sua falação, mas chegou ao assunto que queria: o tamanho do pau do amigo dele. Sim, amigos do esporte, o taxista falou do tamanho do pau do amigo dele! Acho que isso o angustiava e ele queria desabafar.
E disse que era enorme: 23 cm e grosso como um rolo de papel higiênico (Vazio, claro. Aquele rolinho de papel no qual o papel higiênico vem enrolado, ele esclareceu.). Jesus, Maria José e o burrico! Eu quase pedi o telefone do homem!
Contou da sua surpresa ao ver o pau do amigo no vestiário do futebol, disse que zoou o cara, mas outro amigo o alertou que não fizesse isso porque o pirocudo era traumatizado. Devia ser um aleijão, né?
Disse que o tal amigo terminou casamento por conta do pau tamanho XGG-mega-power-plus, que a mulher dele não agüentou. Aí, soltou a pérola:
– É, porque mulher decente não gosta dessas coisas. Vai ficar toda arrebentada! Mulher que gosta de sexo limpo, não quer isso, não. Só as depravadas, as safadas, que gostam.
Eu gar-ga-lhei! Alto. Não me segurei. Só rindo, né? O cara morre de inveja do pau do amigo, mas só porque tem um meia-boca e quer se convencer de que assim é melhor diz que as mulheres "decentes" não gostam de pau grande.
Pensando bem este post podia estar no HTP ou Isac.