Assim que o livro do HTP foi lançado, uma calega do trabalho comentou o feito em casa. Aí, pouco tempo depois, ela levou o filho de 10 lá no trabalho e o menino apareceu na minha baia, levado por outra calega:
- Não fui eu que escrevi o livro, não. Foi ela. – e acrescentou – Ele queria te conhecer.
Ele ficou um pouco tímido. E confesso que eu mais ainda.
Alguns meses depois, ele foi novamente “trabalhar” com a mãe, venceu a timidez e me disse:
- Você pode dar um livro seu para minha mãe?
Achei lindo, gente! Um palhacinho na mais tenra idade reconhecendo o valor desta obra prima, que praticamente já é um clássico do comportamento masculino no início dos anos 2000!
Quase com lágrimas nos olhos, perguntei:
- Você tem algum livro autografado?
- Não.
- Então, vou te dar um livro do HTP autografado.
Ele se escondeu atrás da mãe de tanta timidez, mas sorriu de felicidade.
Assim que a remessa que eu comprei chegou da editora, separei um exemplar para ele e fiz uma dedicatória fofa. Mandei pela mãe dele. Quando nos encontramos no casamento de calega do trabalho, ele me agradeceu todo pimpão.
Os sonhos de consumo (fashion) de Ana Paula Mattos
Eu, uma pessoa zuper antenada, zuper féxion e por dentro de todas as tendências, cismei que queria um oclão de grau. Sabe um oclão? Óculos de armação grande, como se usava antigamente. Eles voltaram com tudo e eu não ia sossegar enquanto não tivesse o meu. Como meu exame de vista estava vencido mesmo (desde 2008 que eu não ia ao médico), fui privar de alguns minutos da companhia de Dr. Geraldo e pegar uma recetinha para trocar a armação. O grau é quase nada e o óculos é mais de onda que qualquer outra coisa.
Bati perna em algumas lojas atrás de uma armação retrô, como nomearam o modelo,mas nada era grande o suficiente para mim (ui!). Solução encontrada: comprei um Ray Ban de sol, mandei tirar as lentes escuras e colocar lentes claras de resina anti-reflexo. Ele ainda é azul claro com aparência de emborrachado!
Ai, não vejo a hora de dar pinta de nerd por aí!
***
Sério, eu fiquei tão feliz com a aquisição que cheguei a sonhar com meus novos óculos. Claro que era um pesadelo ou não seria eu, a ansiedade em pessoa.
Minha irmã tem a voz idêntica a minha, ou melhor, eu que tenho a voz idêntica a dela porque ela é mais velha. Enfim, minha irmã foi a um fornecedor do seu trabalho fazer umas compras de papel. Na recepção, as meninas conversavam sobre palhaços, digo, homens. Ela achou a conversa engraçada e quis indicar o HTP, mas achou que era melhor fazer a compra primeiro porque a negociação seria com um palhaço, digo, homem.
Feita a compra, ela falou para as recepcionistas do HTP. O cara que atendeu minha irmã ainda estava por perto e perguntou:
- É você que escreve o blog?
- Não. Minha irmã.
- Pensei que fosse você porque eu estava reconhecendo sua voz do rádio. Ela não foi na Hora do Blush?
Caraleos de asas me fodam! Mais de um mês depois, o cara lembra da minha voz a ponto de “reconhecê-la” na voz da minha irmã!
Já contei para vocês que ao lado do meu prédio estão (ou deveriam estar) construindo um prédio, né? Pois a movimentação começou em março ou abril, não lembro exatamente, e até agora não subiram uma polegada de prédio. Nem sequer fincaram uma sapata para o alicerce! Até agora eles só fizeram revolver o terreno fazendo um barulho insuportável com aquela broca gigante e tentaram (sem lograr êxito) drenar uma água que brota do chão a cada buraco aberto. (Minha faxineira é que sabe: “Dona Ana Paula, eles abrem buraco, sai uma água e eles fecham o buraco! Só fazem isso!)
Claro que para fazer esta buraqueira e barulhada toda tem um bando de homem. Desocupados a maior parte do tempo, diga-se de passagem. Eles rodam de um lado para o outro sem fazer nada, batem papo, jogam cartas... Eles chegam às 6h da manhã e todos estão sempre alegres e felizes confraternizando. Sabe como é confraternização de homem, né? Ao berros e cheias de xingamentos e palavrões. Às sete as máquinas já estão ligadas. É um despertar maravilhoso. Você nem imagina...
Mas a barulheira e a “alegria” matinal são contornáveis com tampões de ouvido. O pior é presenciar discussões e brigas (porradas mesmo!). Apavorante.
Ontem pela manhã um senhor grisalho, bem vestido, de sapato, calça e camisa social, ignorou o lamaçal e avançou até a casinhola do mestre de obras, encarregado ou coisa que o valha, suponho, e pôs-se a gritar com ele. Devia ser algum engenheiro (no mínimo descuidado porque não usava um EPI). Ele berrava que tinha recebido uma carta desaforada do patrão do cara alvo da sua ira e exigia que ele trabalhasse direito. Os gritos eram tantos, tão altos e na frente de tanta gente que pensei (e eu no lugar dele teria feito isso) que o encarregado ia partir para cima do reclamão desaforado e arrogante. Eles não partiram para as vias de fato, mas hoje teve briga.
Era mais ou menos o mesmo horário (umas 8h) e quando ouvi homem desesperado gritando “Para! Para, por favor! Para pelo amor de Deus!”. Já teve a infeliz experiência de ouvir alguém pedindo para parar de apanhar? Se não teve, que continue assim. Se já teve, sabe do que eu estou falando. É angustiante. Dá medo, vontade ajudar, sensação de impotência, injustiça, pavor. A briga aconteceu dentro do vestiário deles – uns contêineres estrategicamente instalados com as entradas viradas para a parede: o ar não circula, mas a gente não vê o que se passa lá dentro. Só consegui ver o cara que batia sendo puxado e ouvi seus berros reclamando que o outro fazia fofoca e coisa e tal. Um operário foi lá na casinhola do encarregado, mestre de obras, enfim, do responsável pelo botequim, e comentou da briga, mas a pessoa que estava lá dentro nem se mexeu, nem se levantou para ver quem estava fazendo arruaça debaixo do seu nariz.
Duas coisas me chocaram nestes episódios: fiquei pensando que se uma obra aqui, em plo Rio de Janeiro, capital, as coisas são assim, na base do grito e da porrada, imagina como não são lá no meio do mato, lá onde não tem vizinho? Mundo cão total. Outra coisa que pensei é se existe um responsável por esta obra... Se tiver, deve ser como a professora do Snoopy que não aparece (aquela que só fala “bobó bobó...”). Primeiro foi agredido verbalmente pelo seu superior, depois nem tomou conhecimento do que houve entre seus operários. Quanta omissão para uma pessoa só!
E eu sigo torcendo para que esta obra acabe ou desistam dela, o que vier antes da próxima briga.
Minhas férias terminaram ontem, mas só hoje voltei para o escritório e quando abri meus emails tive a desagradável surpresa de descobrir que o pai de uma amiga morreu de infarto no dia 4/10. Imediatamente liguei para ela (que era para ser mais uma fornecedora da firma com quem eu lido, mas virou amiga) e foi só dizer algo como “vi seu email só agora; desculpa não ter ligado antes” e minha voz embargou, ela chorou e ficamos as duas, patéticas, falando baixinho, fungando no telefone, tentando segurar a emoção no “ambiente corporativo”. Pedi mil desculpas por ter ligado para consolá-la e ter chorado e ter feito ela chorar. Foi lembrando da sua dor, da insuportável, incalculável, incompreensível dor que ela está sentindo que me lembrei da animação Father and Daughter que assisti na mostra comemorativa do Anima Mundi este ano. Singela e emocionante. Para minha amiga que perdeu o pai, para mim, para minha irmã, para outras amigas órfãs, este vídeo, com carinho.
(P.S.: Acho linda a música. Repara como ela muda ao longo do filme, com a passagem do tempo. Repara também na cena da despedida. Chooooooro.
P.S.2: Um dia, eu ainda vou contar para você a história The heart and the bottle. Um dia.)